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  • ter. dez 3rd, 2024

Paternidade Ativa e Atípica no TED x FIA

Paternidade Ativa e Atípica no TED x FIA OPINIÃO - Por Luiz Serafim

OPINIÃO

  • * Por Luiz Serafim

Se tiver a oportunidade de falar em evento TEDx, com qual tema você subiria ao palco?

Sou dos palestrantes veteranos do Brasil, compartilhando ideias desde 1998. Passei de mil palestras, mas nunca havia participado do TEDx, evento local, auto-organizado, que surgiu no mundo em 2009, no padrão TED, organização que iniciou suas conferências em 1984 nos EUA.

Na maior parte do tempo, falo sobre inovação e criatividade, mas algo me dizia que, se recebesse convite TEDx, provavelmente escolheria outro tema, menos técnico, mais pessoal, com tempero proporcionado por vivências únicas. Gosto de perseguir criatividade e coerência. Foi assim que decidi propor o tema da paternidade ativa e atípica.

Em 2024, fui presenteado com a oportunidade de participar de eventos que discutiam a questão da parentalidade e suas implicações sobre carreira e vida pessoal. Ao me preparar para esses debates e estimulado pelos saberes de parceiras de palco, refleti sobre pontos da minha própria experiência de pai e conheci melhor o conceito da economia do cuidado.

A Economia do Cuidado refere-se às atividades do cuidar, historicamente, atribuídas às mulheres. O cuidado direto – bebês, crianças, pais idosos, pessoas com deficiência – e o cuidar indireto – a comida, a limpeza, as roupas, o lar são atividades com importância social gigantesca, mas na nossa sociedade, são extremamente desvalorizadas e, quando recebem pagamento, são mal remuneradas.

A Organização Internacional do Trabalho – OIT é das poucas instituições que estudam o tema e apontam que mulheres dedicam quase 4 vezes mais tempo do que os homens para as atividades do cuidado.

Na minha jornada, faço parte da geração que já questionava a divisão tão desigual de tarefas entre homens e mulheres. Meus avós seguiram o molde da primeira metade do século XX. Minha avó materna até foi uma rara contadora nos anos 1930, mas ao casar-se, passou a se dedicar à casa e aos filhos, acompanhando meu avô em suas inúmeras transferências como bancário. Meu avô, carinhoso, sempre assumia seu lugar de poder na ponta da mesa, era o primeiro a ser servido, e desconfio que nunca levou o prato sujo para a pia.

Meu amado pai já refletia alguma evolução da sociedade nos anos 1960. Estimulou a carreira profissional de minha mãe e se orgulhava da posição que ela conquistou em seu trabalho. Mas acho que nunca trocou minha fralda e provavelmente não sabia fritar um ovo.

Ainda jovem e com anos em república durante a universidade, sempre cuidei de mim, das minhas refeições, cama, roupas, louças. Não me ocorria que, se eventualmente me casasse, deixaria tudo isso nas mãos da minha companheira.

Quando nasceu meu filho, quis muito participar das atividades de cuidado. É claro que carregava heranças de uma sociedade machista, patriarcal. No entanto, queria estar presente, dar banho, trocar fraldas, preparar mamadeiras e papinhas. E seguir tocando minha carreira, mas cuidando também da casa, passando vassouras, lavando louças.

Precisamos urgentemente inspirar homens e mulheres a questionar o legado histórico e buscar uma divisão de tarefas mais equilibrada, colaborativa, sensível. Homens não devem manter o modelo dos antepassados, tampouco podem se acomodar porque “ajudam” em casa. As mulheres também precisam se posicionar, se livrar das culpas, permitir dividir tarefas que até hoje monopolizam (consciente ou inconscientemente) como cozinhar e cuidar dos filhos pequenos.

Eu já tinha disposição para ser um pai ativo, que desejava estar presente, acompanhar a jornada do filho, mas como pai de pessoa com deficiência, a exigência de dedicação e a entrega visceral se exponencializam.

Com o passar dos anos, fui aprendendo o valor imenso do cuidar. Primeiro, a paternidade é convite a abandonarmos nossa tendência narcisística, sair um pouco de nossos desejos e ficar mais atento ao outro, ao mundo. Também é oportunidade para ganhar consciência sobre a vida, reconhecer o enorme valor das tarefas do cuidado amoroso. E certamente, é um caminho para nos conectarmos ainda mais com pessoas que amamos e nos nutrirmos, vivendo o aqui e agora, momentos presentes, colhendo sentimentos e afetos diariamente em pequenas e grandes coisas.

Hoje, desconfio fortemente de líderes que somente vivem no mundo dos negócios, acelerados na coerção da produtividade, sem ver os filhos crescendo, sem saber o preço do litro do leite, “reféns” da rotina corporativa com reuniões e compromissos “muito importantes”.

Lembro de história divertida com dois amigos: O primeiro telefona para o segundo que atende e pergunta, no meio da agitada rotina do escritório: É importante?

Pergunta filosófica. O que é importante? Falar um minuto com o amigo de 20 anos, saber como ele está, responder como andam as coisas? Fazer umas piadas, dar risada, trocar afetos? Ou o importante é enviar aquele relatório “urgente”, entrar na vigésima nona reunião da semana?

É claro que tem momento para tudo. Na vida como ela é, precisamos mergulhar nos desafios das organizações, buscar resultados, correr aceleradamente atrás do crescimento, participar de mais uma reunião, atender o vice-presidente na sua porta com cara de poucos amigos.

Mas não é uma normose negligenciar 100% das vezes os momentos com a família e amigos, instantes de bem-estar, rotinas de cuidado e autocuidado para atender as demandas sempre emergenciais do trabalho? Perder o recital de balé, a final do futebol, a festinha de aniversário, a sessão de meditação, a hora da academia? E ainda deixar o filho bem doente em casa com outra pessoa? Não conseguir passar no hospital para ver o pai?

Como pai de pessoa com deficiência, tendo esse cronômetro complexo do tempo que posso conviver com meu filho, venho me guiando por essa tentativa de busca de equilíbrio. Não que seja fácil. Sempre fui um funcionário dedicadíssimo, um líder muito presente, no escritório, no campo, nos eventos, nas reuniões.

Porém, tenho orgulho de dizer que nunca faltei a um programa escolar do meu filho. Estive em todas as apresentações de escola, teatros, música. Participei de todas as festas escolares, inclusive trabalhando nas barracas, assistindo as danças, contribuindo nos mutirões. Só faltei uma única vez, entre dezenas de celebrações.

A mãe do Gabriel sempre fez e faz muito, sendo uma presuma presença fundamental para ele estar tão bem depois de quase duas décadas. Não podemos nos deixar levar por esse senso comum de que mães não fazem mais do que sua obrigação. Como a mãe sempre está junto, parece que sua participação é algo comum, invisível, que não precise de destaque. Nada mais equivocado! Reverencio aqui o cuidado amoroso das mães, às vezes sozinhas, equilibrando arduamente os muitos pratinhos, flertando com desequilíbrios de saúde mental, desafios financeiros, esgotamento físico, concentrando as atividades da economia do cuidado, muitas vezes sem reconhecimento algum.

Gabriel me ensinou muitas lições nessa jornada de paternidade ativa e atípica. Uma delas é que ele define seu próprio limite (nunca eu). O que ele se propuser a fazer, eu acredito e apoio. Vale para outras dimensões. Eu não quero colocar limite para ninguém e nem para mim mesmo. Acho que vim tentando fazer isso como líder de pessoas ao longo do tempo.

Outra coisa essencial é que Gabriel me aproximou do universo de diversidade e inclusão. Antes, na minha minúscula bolha, não tive convivência com pessoas com deficiência. Hoje, não só com meu filho, mas em muitos outros círculos, convivo com muitos jovens e famílias, especialmente no comitê paralímpico brasileiro, onde treinamos semanalmente.

Essa proximidade e interação com as pessoas com deficiência, vem me resgatando da ignorância, quebrando minhas próprias visões capacitistas. Por isso, defendo fortemente a importância de todos saírem de suas bolhas confortáveis e conviverem com o diferente como caminho mais forte para romper preconceitos e enxergar os talentos incríveis dessas pessoas, para além de suas deficiências.

Assim, ser um pai ativo e atípico vem me ensinando muita coisa, transformando minha visão de mundo, influenciando minhas atitudes.

Gostaria que essas ideias florescessem por aí para entrarmos em um tempo que pudéssemos compartilhar igualmente as atividades entre homens e mulheres; que todos pudessem se dedicar um pouco às atividades do cuidar (mas atenção, sem hiper paternidade e cuidado excessivo que sufoca e infantiliza); que abandonássemos a inclinação de abdicar sempre de tantos momentos preciosos em nome do trabalho urgente; que convivêssemos com o diferente, fora de nossas bolhas para aprendermos e nos transformarmos.

O impacto provável é nos tornarmos uma pessoa mais consciente, sensível, empática, equilibrada, potente em outras múltiplas inteligências, influenciando todas as dimensões de nossa vida, tanto como pais, parceiros, líderes de equipes, agentes da comunidade.

Essa não é exatamente a história que vou contar no TEDxFIA Business School. Serão apenas 12 minutos, para os quais pretendo levar uma narrativa e histórias sensíveis e exclusivas para o dia. Para assistir o TEDx em 08/11, ainda tem jeito de comprar convite ou então, esperar para que algum dia, minhas ideias sobre Paternidade Ativa e Atípica, e seu poder de transformação pessoal, sejam publicadas e espalhadas.

Encerro esse artigo, agradecendo a FIA Business School pela oportunidade, a equipe organizadora, e principalmente, ao Gabriel, meu parceiro de jornada, que tanto me transforma e que prometeu que estará lá assistindo nossa história! Torçam por nós!!!

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  • * Luiz Serafim é Empreendedor, Autor e Palestrante de Criatividade, Inovação e Liderança, Consultor e Conselheiro de Inovação, Diretor de Marca e Comunicação

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