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  • qua. dez 18th, 2024
Crônica de fim de ano OPINIÃO - * Por André Naves

OPINIÃO

  • * Por André Naves

Eu adoro crônicas. Na verdade, acredito que elas sejam dos estilos literários mais populares que há. É que elas, além de trazerem lirismo às páginas jornalísticas, circulam livremente pelas correntes de e-mail e de whatsapp (de que toda gente reclama, mas que todo mundo lê) durante gerações!

Foi com elas que aprendi a gostar de ler (como muitos da minha leva). Foi nas palavras de gigantes como Rubem Braga, Carlos Drummond, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, entre outros, que meu coração foi tocado e a liberdade de escrita foi sendo desenvolvida.

Becky Korich e tantos outros magos das letras, ainda que sem saber, continuam incentivando meus mergulhos no diáfano poético do corriqueiro cotidiano. Nessas meditações diárias aprendi a enxergar o extraordinário no ordinário: ENXERGAR!

Perceber com o coração!

Recentemente, o jornalista Bruno Carazza me lembrou de uma dessas preciosidades que decoram o cotidiano em meio a tanta lama e dejetos. Era Rubem Braga e seu desejo, que suspeito também seja de todo escritor, de contar uma história maravilhosa.

“Eu queria contar uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse: ‘ai meu Deus, que história mais engraçada!”.

O gozo da leitora (“como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente e vivo”) seria tão grande que a história maravilhosa, vestida com as roupas da coloquialidade, transitaria num boca-a-boca (real ou virtual) igual rastilho de pólvora… No fim, também consolaria diferentes pessoas. Todos enfrentam seus leões sempre… Um alívio de vez em quando cai bem…

O casal em crise, as prostitutas detidas na delegacia, enfermos em hospitais, familiares enlutados, solitários, miseráveis, esfarrapados, milionários… Todos largariam suas taças amargas para se divertir com um causo gracioso, irresistível e colorido.

E a gostosura das palavras ganharia o mundo sem lenço nem documento, a ponto de as pessoas jamais conhecerem o escritor (aliás, isso importa?). E ela seria contada e recontada por avós, netos, amigos, inimigos, todos… Independentemente da língua, da raça, da cultura, “a história maravilhosa manteria seu encanto, sua frescura e sua pureza.”

Imitando Rubem Braga e tantos preciosos cronistas, eu também, igual um Indiana Jones, continuo buscando minha Arca Sagrada… Quero escrever minha história maravilhosa. Vou continuar ao além. Persistir disciplinadamente, nessa jornada.

Na minha história, eu gostaria de destacar a importância da ALTERIDADE. Sabe a sensibilidade essencial, que nos dá corações humanos para perceber com a alma cada pessoa, única em sua individualidade, e saber que só coletivamente conseguimos unir pontos fortes e limitações no sentido de uma conquista comum?

Esse trabalho para expandir as melhores características de cada pessoa é lutar por autonomia e emancipação. Assim, cada um, autônomo e emancipado, é capaz de se desenvolver da melhor maneira possível, segundo seus próprios desejos.

Um fruto que amadurece no seu tempo…

Mas isso, a possibilidade de que os indivíduos deem as mãos em coletividades e trabalhem eficientemente por seus objetivos comuns, só é concretizada se os Direitos Humanos ganharem vida, alma e substância.

E o que são os Direitos Humanos?

Essa é a poesia da vida!

São os que brotam, como frutos suculentos, daqueles cinco ramos fundamentais e verdejantes da nossa Democracia: Vida (não é a simples sobrevivência, mas sim a possibilidade efetiva de desenvolvimento da personalidade); Liberdade (“quem quiser ser livre para plantar o que quiser tem o dever de assumir a responsabilidade pela colheita”); Igualdade (equivalência de condições basilares mínimas para o desenvolvimento individual); Propriedade (tudo o que é próprio do indivíduo); Segurança (condições estáveis e sólidas para o desenvolvimento pessoal).

Abramos os olhos, porém! Não devemos esperar dos governos essas iniciativas. Devemos, nós mesmos, trabalhar dia a dia, em nossas atitudes e práticas, para desenvolver as individualidades de todos…

ALTERIDADE!

E a minha história maravilhosa só seria completa se encerrada com o célebre ensinamento do sábio Hillel: “Se eu não for por mim, quem irá? Mas se eu for só por mim, que serei eu? E se não for agora, quando?”

Ótimas Festas!

*André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; Cientista Político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; comendador cultural, escritor e professor (www.andrenaves.com; @andrenaves.def).

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