O poder público deve estar à frente dessas iniciativas e a sociedade civil precisa se engajar cada vez mais, diz o Defensor Público André Naves.
Iniciativas que promovem ações inclusivas de lazer e diversão para pessoas com deficiência estão se espalhando pelo país. Afinal, todos têm direito ao lazer! E exemplos não faltam: o Projeto Lia, o Projeto Bike sem Barreiras, o Projeto Pedal da Inclusão e o Projeto Praia para todos são alguns deles.
Especialista em inclusão social, o Defensor Público André Naves lembra que esses movimentos ajudam a sensibilizar a sociedade e ampliam o olhar para as necessidades da pessoa com deficiência.
“A Educação que busca o desenvolvimento das capacidades únicas de cada pessoa é aquela articulada com programas esportivos, culturais e de lazer. Não basta somente a escola; também é necessária uma atividade planejada que una educação, práticas esportivas, atividades culturais e um ambiente que possibilite descanso e diversão. De uma maneira poética, é válido dizer que os sorrisos devem ilustrar os livros”, afirma Naves.
O Projeto Lia, por exemplo, criado em Curitiba, é um movimento articulado por mães de todo o Brasil que propõe alternativas para difundir inclusão e diversão entre crianças com deficiência. Hoje o Lia já está presente em mais de 40 cidades e em 14 estados do país. As mães participantes cobram das autoridades a implantação de brinquedos adaptados em parques públicos, praças e outros locais de uso público comum. O projeto reúne famílias, amigos e profissionais que buscam lazer, inclusão e acessibilidade, conscientizando a sociedade sobre a importância das pessoas com deficiência terem também assegurado esse direito.
Praia para todos
Um dos primeiros projetos voltados à inclusão no Brasil foi o Praia Para Todos, do Instituto Novo Ser, criado em 2008 em parceria com a Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro. Por meio dele, pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida desfrutam gratuitamente de atividades como mergulho no mar em cadeira anfíbia e vôlei sentado, nas praias de Copacabana, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. O programa foi suspenso apenas durante a pandemia da Covid-19. Na Zona Sul da cidade está disponível também a modalidade hand bike, praticada com uma bicicleta adaptada para ser conduzida com as mãos.
Não é preciso fazer inscrição prévia para participar do projeto. Basta chegar à praia no dia e horário do projeto (sábados e domingos, das 9h às 14h) e preencher um breve cadastro. As atividades são realizadas com a ajuda de voluntários, que recebem capacitação e treinamento. Profissionais das áreas de educação física, fisioterapia e terapia ocupacional compõem o grupo. A ideia é que o projeto se expanda e já há negociações para que o Praia Para Todos chegue a praias de cinco municípios da Região dos Lagos fluminense.
Vale ressaltar que o uso de cadeiras anfíbias, que permitem o banho de mar a pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, está se espalhando pelo litoral brasileiro. O serviço, hoje presente em pelo menos 15 estados, ocorre de duas maneiras: uma, menos abrangente e apostando na autonomia do usuário – semelhante ao modelo mais adotado nos EUA -, é a entrega da cadeira ao usuário, que fica com ela em períodos determinados. A outra forma é o chamado banho assistido, em que a pessoa é auxiliada por guarda-vidas ou monitores.
Bikes adaptadas também promovem inclusão
Desde 2016, um grande grupo privado de educação do Brasil realiza o Projeto Bike Sem Barreiras, que oferece bicicletas adaptadas para pessoas com deficiência visual, física, mental, múltipla ou mobilidade reduzida. Os encontros ocorrem aos fins de semana, feriados e quinzenalmente em diferentes regiões brasileiras, são gratuitos e acompanhados por profissionais e alunos de cursos de Fisioterapia e Educação Física.
O objetivo é permitir que pessoas com algum tipo de deficiência física, mental ou múltipla; ou pessoas com mobilidade reduzida que já não conseguem pedalar, possam vivenciar essa experiência ciclística e sentir o prazer da atividade.
O Bike Sem Barreiras fornece três tipos de veículos: uma handbike – triciclo adaptado para ser pedalado com as mãos -; uma bicicleta dupla, pedalada por uma pessoa com deficiência visual e pelo monitor ou acompanhante; e a The Duet, uma bicicleta adaptada com uma cadeira de rodas no lugar da roda dianteira.
O Pedal da Inclusão é outro projeto semelhante, criado também em 2016, em Porto Alegre, e que apoia a convivência amistosa entre todos, PcDs ou não. Por meio da arrecadação de tampinhas plásticas e lacres em pontos de coleta, eles fazem parcerias e constroem bikes acessíveis a pessoas que têm limitações físicas de diversos tipos.
Na bike adaptada do projeto, denominada Tandem, o ciclista com deficiência visual vai na parte de trás e é conduzido por um ciclista voluntário, que guia a bicicleta enquanto descreve as paisagens e o trajeto. Quem tem visão reduzida pedala sozinho, com acompanhamento de um voluntário que atua como um “batedor”, pedalando próximo a ele e orientando em relação ao trajeto, velocidade e obstáculos.
Projetos de Ongs, governos e empresas que apoiam e fomentam os direitos das pessoas com deficiência vêm ajudando a construir uma sociedade mais justa, inclusiva e acessível a todos.
“Quando se fala na criação de ambientes inclusivos, é necessária uma união coordenada. E o poder público, seja municipal, estadual ou federal, deve incentivar e liderar esse processo. Entretanto, essa responsabilidade não é somente dos governos. A sociedade civil organizada, seja por meio de empresas, Ongs ou associações de voluntários, precisa construir alternativas práticas, além de cobrar dos poderes políticos o incentivo a essas valiosas atividades”, conclui André Naves
Praia para todos. Já acompanhei várias atividades.