Para a neuropedagoga Mara Duarte, estratégias baseadas em evidências e adaptadas às particularidades de cada criança são fundamentais para promover inclusão e aprendizagem
Intervenções psicoeducacionais bem estruturadas podem transformar o processo de desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo a neuropedagoga Mara Duarte da Costa, diretora da Rhema Neuroeducação.
A especialista defende que, embora o autismo não tenha cura, estratégias baseadas no conhecimento científico têm o potencial de estimular habilidades cognitivas, emocionais e sociais desde os primeiros anos de vida. “Cada criança é única, e as intervenções devem sempre considerar suas particularidades. É isso que torna o processo realmente eficaz”, afirma.
No Brasil, o Censo Escolar registrou um aumento de 100% nas matrículas de estudantes com TEA entre 2018 e 2021, passando de 105 mil para mais de 212 mil crianças. Para Mara, esse crescimento exige um preparo técnico ainda maior por parte dos profissionais da educação e das famílias. “A formação dos professores tem impacto direto no aproveitamento escolar das crianças com autismo. O conhecimento em estratégias como ABA (Análise Comportamental Aplicada) e Educação Estruturada pode ser determinante para o sucesso pedagógico”, explica.
De acordo com a psicopedagoga, técnicas como o uso de pictogramas, cronogramas visuais e materiais sensoriais ajudam na assimilação do conteúdo e também promovem segurança emocional. “O ambiente deve ser estruturado e previsível, pois isso reduz a ansiedade e favorece o foco e a interação social”, observa. Mara também ressalta a importância de atividades lúdicas adaptadas, como jogos de memória e leitura com apoio visual, que estimulam o raciocínio e a linguagem.
A diretora da Rhema também chama atenção para o papel da família na aplicação das estratégias. “O desenvolvimento infantil acontece em múltiplos contextos. Por isso, é essencial que pais e cuidadores participem ativamente do processo, mantendo uma rotina estruturada e reforçando em casa as intervenções aplicadas na escola ou na clínica”, destaca.
Além das estratégias comportamentais, Mara defende o uso de metodologias como o Floortime — abordagem que prioriza o vínculo afetivo e segue o interesse da criança para construir habilidades de maneira natural e interativa. “Esse tipo de intervenção promove a autonomia e o engajamento, fundamentais para a integração social e o bem-estar emocional”, explica.
Outro ponto enfatizado é a necessidade de abordagens multidisciplinares. A integração entre pedagogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos e fonoaudiólogos é, segundo ela, indispensável. “Trabalhar em rede garante que todas as dimensões do desenvolvimento da criança sejam atendidas. A neuroplasticidade — capacidade do cérebro de formar novas conexões — responde positivamente a estímulos coordenados e intencionais”, afirma.
Com mais de 90 mil alunos formados em cursos de capacitação, graduação e pós-graduação no Brasil e no exterior, a Rhema Neuroeducação é referência na formação de profissionais voltados ao atendimento de crianças neurodivergentes. Para Mara, o compromisso com a inclusão começa pelo investimento no conhecimento. “Não se trata apenas de ensinar conteúdos, mas de criar condições para que cada criança desenvolva seu potencial. Esse é o verdadeiro papel da educação”, conclui.