‘Elas querem se livrar do filho’, diz Celso Furlan, Secretário da Educação na Prefeitura de Barueri sobre mães de autistas. Político diz que gravação está fora de contexto. Sociedade cria Petição Pública pedindo a demissão de Furlan
Matéria atualizada as 19h –
De acordo com informações, o prefeito de Barueri – Beto Piteri, exonerou no início da noite o político Celso Furlan
Celso Furlan – condecorado pela Câmara Municipal de Barueri com o título de Cidadão Benemérito do município é irmão de Rubens Furlan, ex-prefeito. Até o final da tarde desta sexta-feira, 16, estava secretário de Educação, na Grande São Paulo, e apareceu em áudio vazado de uma reunião da pasta na terça-feira (13) acusando mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com deficiência de colocar estudantes na escola para se livrar dos filhos. A conversa ganhou repercussão nesta quinta-feira (15). Em nota, o político afirmou que a gravação foi editada e retirada de contexto.
Na conversa que está circulando, o então secretário de Barueri se queixa da quantidade de alunos que precisam de atendimento especial no município e utilizou termos equivocados ao se referir a autistas e pessoas com deficiência.
“Um aluno com problema de autismo significa 20 alunos normais. Não que eu queira descartar, mas nós temos a Casa dos Autistas, que fica em outra secretária, a do deficiente, mas as mães não estão preocupadas com isso. Elas querem se livrar do filho e que nós cuidamos dele. Não é certo”, disse o ex-secretário de Barueri, Celso Furlan.
Aluno é “todinho torto”
No áudio, Furlan usou a expressão “todinho torto” para se referir a um estudante com deficiência. “Não tem condição de aprender nada e a mãe leva. Sabe por quê? Para ficar livre, 4h, 5h do filho e nós não temos como”, acusou o secretário de Barueri.
Ainda na mesma conversa, segundo áudio vazado, o responsável pela educação se queixou do aumento no número de estudantes com deficiência e autismo na rede municipal, que teria passado de pouco mais de 700 para 3 mil. Furlan credita isso a pais de outras cidades que estariam falsificando documentos para matricular seus filhos em Barueri.
Ele orienta os funcionários a evitar que isso ocorra. “Tome cuidado para não ficar dando vaga para deficientes porque vocês não toleram mais eles na escola”, declarou o secretário de Barueri.
Fala capacitista
A deputada estadual Andréa Werner (PSB), mãe de autista e que foi diagnosticada dentro do espectro, produziu um vídeo repercutindo a fala do secretário de Barueri. “Autismo não é ‘problema’, como o secretário muito mal classificou. É um transtorno do neurodesenvolvimento. Eu gostaria muito que ele compreendesse que qualquer um é capaz de aprender — mesmo qualquer criança, adolescente ou criança com deficiência pode aprender. Basta que sejam dadas a eles ferramentas para isso”, defendeu a parlamentar da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Assembleia Legislativa (Alesp).
Ela criticou também a acusação do secretário de Barueri de que mães querem se livrar dos filhos. “Muitas delas estão lutando para botar comida na mesa enquanto escola. Essa afirmação é descolada da realidade, parece ideia de quem nunca visitou uma família atípica da periferia, ou uma mãe solo. Escola, na verdade, é uma rede de suporte social para essa mãe”, diz.
Andréa Werner pontuou que para um município de pouco mais de 300 mil habitantes, como Barueri, o número de 3 mil estudantes com deficiência na rede municipal não é “tão anormal assim”. E lembrou que a lei Berenice Piana, de 2012, e a lei Brasileira de Inclusão, de 2015, garantem os direitos das pessoas atípicas.
Falas estão fora de contexto
O secretário de Barueri, Celson Furlan, utilizou o Instagram para se manifestar sobre o áudio. Ele alega que as declarações foram retiradas do contexto original e que o assunto era tema de uma reunião de trabalho, “onde se discutia a criação de ambientes escolares com mais oportunidades de aprendizado e infraestrutura aos alunos com deficiência”, diz nota. O responsável pela educação defendeu que o município é referência em educação inclusiva.
“Acredito firmemente na valorização da diversidade humana e no respeito à dignidade de cada indivíduo, independentemente de suas características. Continuo aberto ao diálogo e sempre disposto a aprimorar a comunicação para que ela esteja alinhada aos princípios de respeito e inclusão que defendo. A Secretaria de Educação de Barueri está de portas abertas para acolher as famílias”, publicou o Secretário de Barueri.
Petição Pública pela exoneração de Celso Furlan
https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR151047
Começou a circular pelas redes sociais uma Petição Pública com a solicitação de retirada de Celso Furlan do Cargo de Secretário de Educação de Barueri.
De acordo com os organizadores da Petição, “nós, familiares de pessoas com deficiência, cidadãos e cidadãs, viemos por meio deste abaixo-assinado manifestar nossa indignação e exigir a imediata retirada do Senhor Celso Furlan do cargo de Secretário de Educação de Barueri, em razão das declarações desrespeitosas e discriminatórias proferidas por ele em vídeo amplamente divulgado. Desrespeito aos direitos das pessoas com deficiência: O Secretário de Educação não pode ser alguém que propague e legitime atitudes discriminatórias contra a população com deficiência, um grupo historicamente marginalizado e em busca de direitos iguais. Prejuízo à inclusão educacional: Tais falas prejudicam as políticas de inclusão que tanto têm lutado para conquistar. A educação não deve ser uma arena para reforçar estigmas e preconceitos, mas sim para promover uma convivência harmônica e igualitária entre todas as pessoas, independente de suas diferenças”.
A petição pública solicita “a imediata destituição do Senhor Celso Furlan do cargo de Secretário de Educação de Barueri, pois ele não representa os valores de inclusão, respeito e dignidade que devem ser a base de qualquer política pública”.