OPINIÃO
- * Por Abrão Dib
Ser uma pessoa com deficiência no Brasil é, muitas vezes, enfrentar barreiras diárias que não deveriam existir em uma sociedade que se afirma democrática e inclusiva.
Apesar dos avanços legais conquistados nas últimas décadas, como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), ainda convivemos com um cenário de exclusão estrutural que compromete a cidadania e a dignidade de milhões de brasileiros.
Na condição de presidente da ANAPcD, elenco aqui as dez principais dificuldades que recebemos constantemente de nossos associados e que refletem a realidade de norte a sul do país:
1. Acessibilidade física
Ainda faltam rampas, calçadas adequadas, sinalização tátil, elevadores e banheiros adaptados em escolas, hospitais, repartições públicas e até em locais de lazer.
2. Mobilidade urbana e transporte
Ônibus sem plataformas elevatórias, metrôs com falhas no acesso, trens sem estrutura adequada e a carência de táxis ou aplicativos acessíveis tornam o direito de ir e vir um grande desafio.
3. Mercado de trabalho
Apesar da Lei de Cotas, ainda vemos empresas que contratam apenas para cumprir a legislação, sem oferecer acessibilidade, capacitação e oportunidades de crescimento.
4. Educação inclusiva
A falta de professores preparados, de intérpretes de Libras, de material em braile e de tecnologias assistivas compromete o aprendizado de milhares de estudantes com deficiência.
5. Atendimento à saúde
Hospitais e postos de saúde ainda não estão totalmente preparados. Faltam equipamentos adaptados, profissionais capacitados e respeito às especificidades de cada deficiência.
6. Acesso à tecnologia e comunicação
Sites e aplicativos sem acessibilidade digital, ausência de legendas e audiodescrição em conteúdos midiáticos e incompatibilidade com leitores de tela limitam o acesso à informação.
7. Preconceito e estigma social
O capacitismo ainda é uma realidade dura. Pessoas com deficiência são frequentemente subestimadas, infantilizadas ou invisibilizadas na mídia e nos espaços de decisão.
8. Burocracia no acesso a direitos
Benefícios sociais, isenções tributárias e políticas públicas exigem processos longos e desgastantes, que acabam afastando as pessoas de direitos já garantidos em lei.
9. Participação política e social
Muitas audiências públicas, reuniões de conselhos e espaços de deliberação não oferecem acessibilidade plena, o que exclui PcDs da vida política.
10. Autonomia e vida independente
A falta de moradias acessíveis, cuidadores qualificados, apoio financeiro e acesso a tecnologias assistivas ainda impede que milhares de pessoas vivam com independência e dignidade.
O que vemos é que a exclusão não está na deficiência, mas nas barreiras sociais e institucionais. Superar essas dificuldades exige compromisso político, investimento público e, sobretudo, a mudança de mentalidade da sociedade, para que o capacitismo seja combatido de forma estrutural.
Na ANAPcD, seguiremos mobilizados para transformar essa realidade, cobrando dos poderes públicos políticas eficazes e unindo forças com a sociedade civil para que nenhuma pessoa com deficiência seja deixada para trás.
* Abrão Dib é jornalista e está presidente da ANAPcD – Associação Nacional de Apoio às Pessoas com Deficiência