OPINIÃO
- * Por Eduardo Victor
As ações afirmativas são fundamentais na nossa sociedade. Apesar dessas políticas públicas agirem de forma paliativa, elas ainda cumprem o seu papel de ampliar possibilidades para as pessoas com deficiência.
E da minha história, elas fazem parte.
Na adolescência, eu tive a chance de fazer um curso técnico após ficar em segundo lugar entre os cotistas com deficiência; eu sei que dificilmente isso seria possível e estaria ao meu alcance de outra forma, se não fosse pela vaga afirmativa.
Por isso, a abertura para esse diálogo é tão fundamental na nossa sociedade.
A luta pela vida que merecemos ter
Minha família sempre lutou por mim, eu fui alfabetizado pela minha mãe e por causa disso, não fiquei refém da exclusão na vida escolar.
Ler, escrever e me comunicar bem foi o que fez eu ser quem sou hoje.
Quando eu estava no Ensino Fundamental, fui bolsista em uma escola privada e graças à minha mãe e irmã, que são professoras e sempre tiveram o olhar atento sobre mim, pude ser incluído e me desenvolver.
Nessa escola, existia uma matéria chamada “Desenho Geométrico” na qual era preciso utilizar compasso e esquadro, por conta da Paralisia Cerebral, a minha coordenação motora não é muito boa, e eu não conseguia ir bem nessa disciplina.
Tirei notas ruins quase o ano todo e foi necessária uma intervenção da minha mãe, argumentando e defendendo as minhas necessidades, para que eu não fosse reprovado.
Para quem não convive com nenhuma condição e nunca precisou enfrentar limitações, talvez não perceba o tamanho desse obstáculo, só quem sabe o quanto faz a diferença contar com profissionais preparados e ter políticas que amenizam as barreiras para quem tem alguma dificuldade de aprendizagem e desenvolvimento pode entender a diferença que isso faz.
Mesmo com todo o avanço da Lei de Cotas e das ações afirmativas, ainda caminhamos a passos bem lentos e de vez em quando, caímos no retrocesso, como o que foi apresentado na matéria do G1 Minas, que aponta que a capacitação de professores está diminuindo ano após ano.
Valor destinado à formação de professores, em BH, caiu drasticamente. [1]
A falta de capacitação de profissionais é, inclusive, uma dor tanto da minha mãe que é professora de creche, quanto da minha irmã que é professora de Física no Ensino Médio. Por mais que elas desejem implementar medidas de acessibilidade dentro das salas, não conseguem o apoio do Estado.
Eu sou fruto da lei de cotas e tenho orgulho de dizer isso.
Hoje eu consigo me comunicar, estudar, trabalhar e compartilhar minha trajetória com milhares de pessoas na internet, isso tudo porque essas políticas públicas existiram para me fazer trilhar esse caminho.
Eu fui do Dudu que tinha dificuldade de segurar um compasso para o Dudu que hoje pula corda, dança, é DJ, dá palestras e impulsiona muitas outras pessoas através do Além da Rampa.
É por isso que as ações afirmativas são tão importantes, elas não resolvem tudo, mas criam cenários mais justos para todas as pessoas.
Imagine quantos talentos estamos perdendo todos os dias porque ainda resistimos a enxergar a inclusão como prioridade?
https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7376344611901890561
[1] https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/mg2/video/valor-destinado-a-formacao-de-professores-em-bh-caiu-drasticamente-13875316.ghtml
- * Eduardo Victor é Fundador do Além da Rampa | Apresentador | Comunicador Social | Palestrante em Acessibilidade e Inclusão |
[1] https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/mg2/video/valor-destinado-a-formacao-de-professores-em-bh-caiu-drasticamente-13875316.ghtml