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  • sex. nov 22nd, 2024

Diário PcD entrevista a primeira pessoa com tetraparesia a cursar Medicina no Brasil

Diário PcD entrevista a primeira pessoa com tetraparesia a cursar Medicina no Brasil

#PRATODOSVEREM: Card colorido. Do lado esquerdo texto “O IMPOSSÍVEL NÃO É UM FATO. É SÓ UMA OPINIÃO”. Do lado direito, foto e uma mulher, de pele clara e cabelos escuros e longo, na cadeira de rodas. Ela veste uma calça escura e um jaleco branco. FIM DA DESCRIÇÃO

O Diário PcD entrevista Elaine Luzia dos Santos, acadêmica da Unioeste: a primeira pessoa com tetraparesia a cursar Medicina no Brasil.

O olhar ganhou significados inéditos para a médica, e para todos que dividem o cotidiano da estudante de Medicina.

Com um olhar, uma piscada, um sutil movimento, Elaine se comunica com professores, colegas da turma, pacientes, familiares e amigos, que aprenderam a traduzir o significado de cada gesto.

A desenvoltura que apresenta na comunicação hoje é fruto de uma longa caminhada de superação de dificuldades.

A médica, depois de sofrer um AVC – Acidente Vascular Cerebral enquanto cursava Medicina, se tornou tetraplégica e também perdeu a voz. Ela passou a se comunicar através do olhar, que transforma tudo em texto.

O Diário PcD recebeu a entrevista – por escrito e transformou em audiodescrição, para transmissão no Canal do YouTube.

Confira tudo.

* Quem é Elaine Luzia dos Santos?

Elaine Luzia dos Santos, é a primeira pessoa do Brasil a se formar em Medicina após sofrer um acidente vascular cerebral que comprometeu todos os movimentos do seu corpo e também sua fala, mas que manteve a parte cognitiva e funções neurológicas totalmente preservadas.

Tem atualmente 33 anos de idade, é nascida e criada em Diamante d’ Oeste, de onde saiu para cursar Farmácia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE campos de Cascavel.

Parte de uma família humilde composta por sete filhos de um casal de um agricultor aposentado e uma funcionária pública estadual, teve sua vida acadêmica integralmente em escola pública e acredita que a educação é a base e o caminho para uma vida digna no exercício dos direitos e deveres impostos pelo convívio em sociedade.

* Quando e como começou a paixão pela medicina? Antes de decidir pela medicina, tinha pensado em outra carreira?

Ser médica é um sonho de criança que tomou forma ao concluir, em 2010, aos 21 anos, o curso de farmácia, onde conheci a área de pesquisa e me apaixonei, e a opção inicial seria concorrer a uma vaga de mestrado para aperfeiçoamento em Biociência pela Unioeste.

Eu acredito que só a entrega total é producente e deve ter espaço reservado em nossas vidas! Daí assumir meus desejos e buscar aliados era o que eu precisava para estar próximo a pacientes, queria dispensar um tratamento humanizado e amenizar, de alguma forma, o sofrimento das pessoas, e a trajetória seria pelo curso de medicina.

* Quais foram os principais obstáculos durante os estudos?

Os maiores obstáculos enfrentados após o acidente vascular cerebral sofrido em 14 de novembro de 2014 foi a barreira da inclusão, mas que em julho de 2015, pela Lei 13.146/ 2015 ganhei aliados para defesa dos meus direitos.

Diante da falta de autonomia motora e vocal eu precisei aprender a me comunicar com o piscar dos olhos, e formar cada palavra após a soletração do alfabeto, além de utilizar de uma cadeira de rodas para minha locomoção.

Para a continuidade do curso eu precisei do apoio da minha família que executava tudo que eu planejava, além disso, eu precisava fazer com meus ideais ganhassem voz através do apoio de outras pessoas.

No âmbito da inclusão a UNIOESTE não apresentava precedentes tendo seu nome figurado entre os pioneiros nesse processo, que aos poucos foi se adaptando as minhas novas necessidades, dispondo através do Programa de Educação Especial-PEE de profissionais que se mobilizaram para defender meu direito de continuar a graduação e chegar com êxito e louvor, diante do improvável, a desejada formação.

Sou imensamente grata aos que sempre me apoiaram, principalmente ao carinho mais próximo das transcritoras que foi muito reconfortante nos momentos difíceis, eles foram meu elixir para minhas angústias, mas também àqueles que não acreditaram que fosse possível, meu antídoto contra minha zona de conforto. Os Romanos Antigos diziam “o impossível não é um fato, é só uma opinião”!

* Já é uma médica formada? Qual o atual estágio na medicina?

A formação em Medicina pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE se deu no último dia 10 de junho de 2022.

É muito gratificante ter feito parte de uma instituição pública de excelência, ter concluído dois cursos de extremo prestígio me preparando para profissões que gozam de singular importância e reconhecimento junto à sociedade!

* Definiu sua especialidade?

Eu estou em busca de uma área que seja adequada, ou seja, atenda as minhas expectativas de conhecimento e também minhas possibilidades!

Nesse contexto eu vislumbro explorar diferentes oportunidades. Eu estou aberta às experiências e a tudo que a medicina e as outras pessoas possam me oferecer!

* Pretende atender em consultório particular, ou em clínicas e plantões médicos?

Além de atuar em clínicas, pretendo dar continuidade a área de pesquisa, podendo assim descobrir novos métodos para aplicação na Medicina, melhorando a saúde e a vida dos pacientes.

* Hoje atua onde?

Dando continuidade a formação acadêmica, hoje estou me preparando para concorrer a uma vaga na residência médica, pra isso tenho estudado diariamente.

Não existem fronteiras para o conhecimento, eu, diferente de algumas pessoas, tenho maior dificuldade motora, mas isso não me impede de continuar.

O príncipe Hamlet, personagem criado por William Shakespeare disse: eu poderia ser livre em uma casca de nozes. Eu sou livre na minha casca, meu escafandro, minha carapaça, ela não impõe fronteiras a consciência! O poeta já dizia “Tudo é relativo”, com a medicina não seria diferente, eu acreditei no possível e hoje sou médica.

* Quais as próximas metas da Dra. Elaine?

A conclusão do curso de medicina é uma etapa importantíssima pra minha vida profissional, e minha próxima meta é exercer a profissão podendo ajudar as pessoas.

Acredito muito na evolução da medicina, e mesmo não podendo fazer tudo, eu ainda posso contribui muito na busca e disposição de soluções criativas, inovadoras e eficazes que oportunizarão melhorar o dia a dia dos pacientes, que são a razão dessa formação.

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