- Por Sandra Ramalhoso
Em sua coluna no jornal Estado de Minas, no dia 03/01, a colunista Anna Marina utilizou a palavra “estrupiado “ para designar as pessoas que subiram a rampa do planalto e entregaram a faixa presidencial ao atual presidente eleito.
Sou vítima de pólio por negligência e omissão do governo ditatorial existente no Brasil na época em que nasci, década de 60.
A luta para que essa palavra não designassem as pessoas com deficiência foi muito grande. Nos ambientes escolares, nos transportes, no trabalho, éramos vistos como incapazes, humanos de menos valia.
A partir da década de 80 fomos conquistando espaços e mostrando que somos humanos, que devemos e podemos tudo como qualquer outro indivíduo.
Atualmente sou Coordenadora da Pastoral da Pessoa com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo e também presidente da Associação G-14 de Apoio aos Pacientes de Pólio e Síndrome Pós-pólio, e um dos maiores desafios ainda é retirar as pessoas com deficiência de suas “ jaulas”, verdadeiras prisões a que estão sujeitas porque ainda existem pessoas que pensam como a colunista Anna Maria.
O Brasil ratificou a Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e de lá para cá, muita coisa vem mudando.
Há de chegar o dia em que não precisaremos ter estatuto do idoso, estatuto da criança, estatuto da pessoa com deficiência, leis que garantam os direitos das mulheres, pois a máxima vai prevalecer: SOMOS TODOS HUMANOS E OS DIREITOS HUMANOS SÃO UNIVERSAIS.
Devo dizer a colunista que essa palavra é pejorativa e foi utilizada no sentido de desmerecer as pessoas com deficiência e os demais que lá estavam. Mulheres, negros e pessoas com deficiência que representam sim uma importante parcela da sociedade brasileira. Colocar para debaixo do tapete as mazelas que o próprio governo produz e não resolve é característica de governos autoritários e fascistas.
No nazismo, as primeiras pessoas que foram retiradas da sociedade e que sofreram as atrocidades que todos já conhecemos foram as pessoas com deficiência.
É claro que Bolsonaro deve estar bem longe deste país. Ele sim, não representa a sociedade brasileira. Esta sociedade que é plural e acolhedora. Onde a perfeição está no caráter e não no aspecto físico ou no potencial de produção.
Não vou descer ao seu nível, Anna Maria.
Quero que tenha a oportunidade de estar ao nível das pessoas ali representadas. Pessoas batalhadoras, que resistem e existem apesar de todo o preconceito e discriminação que sofrem por pessoas como a senhora.
O Brasil vai voltar a ser humano! Tenho certeza!
*Sandra Ramalhoso é PcD, presidente da Associação G-14 de apoio aos pacientes de polio e síndromepóspolio, coordenadora da Pastoral da Pessoa com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo e Conselheira do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo.