Um recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e UNICEF revela que mais de 2,5 bilhões de pessoas precisam de um ou mais produtos assistivos, como cadeiras de rodas, aparelhos auditivos ou aplicativos que apoiem a comunicação e a cognição. No entanto, quase um bilhão delas não têm acesso a essas tecnologias, principalmente em países de baixa e média renda, onde o acesso é muito baixo – alcança apenas 3% das pessoas que precisam desses produtos para viver.
Se as dificuldades em todo o mundo são grandes, no Brasil esse problema é ainda maior, conforme foi apresentado na noite de sexta-feira, 17, no canal do Diário PcD no YouTube – link ao final da matéria.
Com Ana Paula Navarrete – interpretando tudo em Libras, o jornalista Abrão Dib entrevistou André Naves (Defensor Público Federal) e Mariana Santana (CEO da Move Solução em Mobilidade).
A transmissão trouxe o relato de pessoas com deficiência e de familiares de diversas regiões do Brasil, que trouxeram as dificuldades da rotina diária.
O The Global Report on Assistive Technology apresentou evidências pela primeira vez sobre a necessidade global e o acesso a produtos assistivos e proporciona uma série de recomendações para expandir a disponibilidade e o acesso, aumentar a conscientização sobre essa necessidade e implementar políticas de inclusão para melhorar a vida de milhões de pessoas.
“A tecnologia assistiva é uma mudança de vida – abre as portas para a educação de crianças com deficiência, emprego e interação social para adultos que vivem com deficiência e uma vida independente e digna para os idosos”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Negar às pessoas o acesso a essas ferramentas que mudam vidas não é apenas uma violação dos direitos humanos, também demonstra pouca visão do ponto de vista econômico. Pedimos a todos os países que financiem e priorizem o acesso à tecnologia assistiva e deem a todos a chance de viver de acordo com seu potencial”.
Números apontam que “quase 240 milhões de crianças têm deficiências. Negar às crianças o direito aos produtos de que precisam para prosperar não apenas as prejudica individualmente, mas priva as famílias e suas comunidades de tudo o que poderiam contribuir se suas necessidades fossem atendidas”, ressaltou a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell. “Sem acesso à tecnologia assistiva, as crianças com deficiência continuarão a perder a educação, continuarão a estar em maior risco de trabalho infantil e continuarão sujeitas a estigma e discriminação, minando sua confiança e bem-estar.”
O relatório observa que o número de pessoas que precisam de um ou mais produtos assistivos provavelmente aumentará para 3,5 bilhões até 2050, devido ao envelhecimento da população e ao aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em todo o mundo. Também destaca a grande lacuna no acesso entre países de baixa e alta renda. Uma análise de 35 países revela que o acesso varia de 3% nos países mais pobres a 90% nos países ricos.
A condição econômica é uma grande barreira ao acesso, indica o relatório. Cerca de dois terços das pessoas com produtos assistivos relataram pagamentos do próprio bolso. Outras relataram contar com a família e amigos para apoiar financeiramente suas necessidades.
O outro lado da realidade das pessoas com deficiência foi apresentado por Adriana Santiano (ABA – Associação Brasileira de Addisoniana) que mostra que no Brasil não há interesse da produção de um medicamento que custa R$ 0,31 (trinta e um centavos). A medicação traria mais qualidade de vida para pessoas que possuem doenças raras.
O Diário PcD entrevista Luiz Augusto (pai de criança com autismo), Guilherme Kalel (com deficiência visual), Luciana Stocco (Instituto Jô Clemente), Donizete Inoque (amputado), Luciana Ramos (mão do Bruno, com tetraplagia), Adriana Santiago (doenças raras), Marcos Antonio (pai de criança com autismo e pessoa com deficiência), Renato Trevellin (pai do Gianlucca com AME – Atrofia Muscular Espinhal), Elzelide Lourdes da Silva (mão da Isabelle, com síndrome de down) e Paulo Vieira (com deficiência auditiva e da CBDS – Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos).
Fabio Cordeiro (autista e pai de autista), Morgana Moura (mãe de dois filhos autistas) e Jeane Rodrigues (autista e mãe de autista) são integrantes da ONG ONDA AUTISMO também participaram da transmissão.