A venezuelana Gabriela Peña integrou a operação Acolhida e hoje trabalha com Recursos Humanos em São Paulo
A venezuelana Gabriela Peña, 34 anos, chegou ao Brasil em 2018. Com dedicação e profissionalismo, ajudou a família a alcançar a almejada independência financeira. Formada em Administração pelo Instituto Tecnológico da Venezuela, a profissional que anteriormente trabalhava em um aeroporto venezuelano na área de alfândega, agora integra a equipe de recursos humanos de um grande grupo de medicina no Brasil.
Mas sua trajetória até aqui não foi fácil. Gabriela, a mãe e o marido desembarcaram em Pacaraima (RR), na fronteira brasileira com a Venezuela, esperançosos por segurança e melhores condições de vida. Beneficiados pelo programa de interiorização da Operação Acolhida, foram para Cuiabá (Mato Grosso) e, de lá, seguiram para São Paulo.
Gabriela atendia a clientes em uma empresa de tecnologia e computadores, vaga que conseguiu a partir do programa PoupaTempo, do governo do estado de São Paulo. Durante oito meses, dividiu o tempo entre o trabalho e as aulas de português oferecidas por instituições parceiras da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), como Cáritas São Paulo e Sesc-SP.
Em 2019, ela conseguiu a colocação atual ao participar do projeto Empoderando Refugiadas, uma parceria entre ACNUR, Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres para facilitar que mulheres refugiadas tenham formação específica e continuada para o ingresso no mercado de trabalho brasileiro.
“Não é fácil. No começo nada é fácil. Mas aqui no Brasil existe uma lei que protege as pessoas com deficiência e que obriga empresas a ter uma cota de contratações. Se procurar, consegue achar. Eu já passei por duas empresas e não tenho o que reclamar de nenhuma das duas. Se a pessoa quer, ela corre atrás e consegue”, afirma Gabriela.
Atualmente, estima-se que pessoas com deficiência correspondam a 15% da população mundial. No caso do deslocamento forçado, essa proporção pode ser ainda maior, com 12 milhões de pessoas com alguma deficiência. Segundo dados coletados pelo ACNUR em abrigos localizados no norte do Brasil, existem 130 pessoas com deficiência registradas.
“É fundamental trabalharmos para garantir oportunidades para pessoas com deficiência, já que frequentemente correm maior risco de violência, exploração e abuso, além de enfrentarem barreiras para ter acesso a serviços básicos e serem excluídas das oportunidades de educação e subsistência”, afirma Maria Beatriz Nogueira, chefe do escritório do ACNUR em São Paulo
Para Gabriela, um dos grandes problemas relacionados à empregabilidade de pessoas refugiadas no Brasil é a questão burocrática. Ela explica que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por ser pessoa com deficiência e refugiada, mas reforça o papel das empresas na integração no ambiente de trabalho.
“Tem muitas pessoas refugiadas que querem trabalhar, nós queremos somar. Além de termos uma remuneração e forma de viver e nos sustentar, nós também queremos somar e aprender”, acrescenta.
Hoje, a família mora em uma casa em Caucaia do Alto, no município de Cotia, região metropolitana de São Paulo, onde Gabriela e o marido acompanham passo a passo do crescimento de Frida, filha de um ano e dez meses.
Empoderando Refugiadas – O Empoderando Refugiadas está na sexta edição e trabalha a empregabilidade de mulheres refugiadas e migrantes, além de promover o engajamento de empresas para a contratação dessas mulheres.
“O projeto Empoderando Refugiadas propicia meios para que as mulheres refugiadas possam aprimorar e buscar novos conhecimentos, assegurando os saberes que já trazem consigo para que, no Brasil, possam reconstruir suas carreiras profissionais com dignidade, cientes de seus direitos”, destaca Camila Sombra, associada de Meios de Vida do ACNUR.
O projeto é uma parceria entre ACNUR, Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres e conta com o apoio das empresas Unidas, Renner, MRV, Iguatemi, Sodexo e Facebook.
FOTO/Crédito: Gabriela Peña trabalha com Recursos Humanos em São PauloFoto: © Gabo Morales/ACNUR