Com apoio da ONG Mais Diferenças, todas as mesas da Festa Literária Internacional de Paraty/RJ terão Libras, audiodescrição, espaços adaptados para pessoas com deficiência e diversos recursos para todas as pessoas
“A Flip é para todas as pessoas, com e sem deficiência”, diz Carla Mauch, coordenadora da ONG Mais Diferenças, que, desde 2019, assessora os processos de acessibilidade da Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro. Em sua 23ª edição, o evento, que acontece de 30 de julho a 3 de agosto, trabalha para garantir que todos possam participar de suas atividades.
Com mais de 35 anos de experiência em projetos de acessibilidade e inclusão, Carla celebra o compromisso com os direitos das pessoas com deficiência no mais relevante encontro literário do país. A programação da Flip em 2025, mais uma vez, oferecerá medidas de acessibilidade para diferentes públicos.
O trabalho para deixar a Festa Literária acessível compreende desde o seu planejamento, passando pelo desenvolvimento dos recursos necessários, considerando diferentes dimensões de acessibilidade – arquitetônica, comunicacional e atitudinal. Todas as 20 mesas da programação principal contarão com tradução e interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras), realizadas ao vivo, tanto para quem assiste no Auditório Principal, quanto para quem acompanha do Auditório da Praça, pelo telão, de forma gratuita. A programação da Flipinha, bem como as mesas da Casa Motiva, também contará com Libras.
Além disso, os espaços da Festa foram atentamente pensados para a inclusão de todos os públicos, com rampas e passarelas que facilitam a circulação entre os ambientes, sanitários acessíveis, assentos reservados e prioridade de atendimento para as pessoas com diferentes deficiências e autistas, promovendo autonomia e equiparação de oportunidades durante o evento. Ainda no Auditório Principal, o espaço contará com piso e mapa táteis. Haverá ainda uma equipe de audiodescritores responsáveis pela descrição de todas as mesas principais.
“É perfeitamente possível tornar um evento acessível por meio do trabalho interdisciplinar, do envolvimento das diferentes equipes e da criação de soluções técnicas”, acredita Ana Rosa Bordin Rabello, coordenadora de conteúdos acessíveis da Mais Diferenças. Ela lembra que a ONG também realiza um trabalho intenso de articulação com organizações que atuam com pessoas com deficiência da cidade de Paraty, para que os moradores do município participem do evento e se sintam inspirados pela literatura.
Uma das beneficiárias diretas dessas políticas é Rebeca Gibrail, 57, pessoa autista com nível 1 de suporte. Frequentadora assídua da Flip desde o seu início, ela nunca pôde usufruir totalmente da experiência do evento devido à sua hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como excesso de ruídos e calor muito intenso.
“A movimentação intensa na cidade durante a Flip sempre gerou uma sobrecarga sensorial muito grande. O acesso era muito difícil: filas longas, aglomeração, barulho, estímulos em excesso — tudo isso impactava diretamente a minha presença nas mesas. Com a Mais Diferenças, a minha experiência mudou completamente. Com a possibilidade de acessar os ingressos com antecedência e de ter lugar reservado na Tenda dos Autores, pude participar de forma mais segura, confortável e respeitosa com os meus limites”, conta ela, que estará novamente nesta edição do evento.
A legislação brasileira prevê a garantia dos direitos das pessoas com deficiência por meio da Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), porém, uma pesquisa feita pela Mais Diferenças sobre o acesso à cultura por pessoas com deficiência em São Paulo mostrou que ainda é preciso lidar com alguns desafios estruturais. Ao todo, 80% dos participantes revelaram ter dificuldades em participar de atividades culturais. Contudo, 93% afirmam que gostaria de participar mais de eventos culturais.
“A Flip mostra que é perfeitamente possível fazer cultura com inclusão, diversidade e compromisso social. Isso exige planejamento, escuta ativa, articulação com os movimentos de pessoas com deficiência e disposição para aprender continuamente. Quando um evento desse porte se compromete com a acessibilidade, ele inspira outras organizações a repensarem suas práticas e a enfrentarem o capacitismo de forma estruturada e transformadora”, conclui Carla.
Veja informações sobre o evento: https://flip.org.br/ .
Sobre a Mais Diferenças: Criada em 2005, a Mais Diferenças é uma organização da sociedade civil que atua na promoção da educação e da cultura inclusivas, com foco na acessibilidade e na garantia dos direitos das pessoas com deficiência. Reconhecida como OSCIP e Entidade Promotora de Direitos Humanos pelo Ministério da Justiça, desenvolve projetos em parceria com setores públicos, privados, universidades e organizações nacionais e internacionais. Saiba mais em: maisdiferencas.org.br