Fórum DiversaMente, idealizado pela Autistas Brasil, leva ao Museu do Ipiranga o debate global sobre neurodiversidade com protagonismo brasileiro

O Museu do Ipiranga, na capital paulista, recebe o Fórum DiversaMente – Neurodiversidade, Justiça Cognitiva e Democracia, idealizado e realizado pela Autistas Brasil. Gratuito, acessível e transdisciplinar, o encontro reúne especialistas, pesquisadores, organizações da sociedade civil e movimentos sociais para discutir caminhos concretos de inclusão e participação social das pessoas neurodivergentes no Brasil.
Mais do que um evento acadêmico, o Fórum afirma a neurodiversidade como valor público, eixo de inovação e pilar democrático. A proposta parte de um princípio simples e urgente: não há democracia plena quando apenas um tipo de conhecimento define a realidade. Por isso, o DiversaMente coloca em diálogo saberes acadêmicos, comunitários e experiências vividas, com protagonismo de lideranças brasileiras — pessoas que falam a partir de suas vivências como sujeitos políticos, e não apenas de diagnósticos.
Entre as presenças internacionais, destaca-se Lawrence Fung (Stanford University), médico psiquiatra e referência mundial no tema, diretor-fundador do Stanford Neurodiversity Project, a principal iniciativa de inclusão universitária dos EUA. O filósofo Francisco Ortega, um dos pensadores mais influentes sobre neurodiversidade e saúde, também integra o encontro, ampliando o diálogo com uma crítica de alcance global e profundo impacto no campo.
O Fórum será igualmente um marco institucional: acontece o lançamento da Federação Brasileira de Neurodiversidade, sinalizando um novo patamar de organização social, incidência pública e crítica democrática no país.
Entre os nomes confirmados, está também a Ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia, que participa do Fórum com a palestra “A dignidade humana e o dever de solidariedade”, cujo subtítulo propõe uma reflexão sobre “O reconhecimento das diferenças e a inclusão como caminhos de efetividade dos direitos fundamentais.” A presença da Ministra reforça a centralidade do debate sobre direitos, justiça e democracia na construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
“O DiversaMente é mais do que um encontro: é um gesto político e epistemológico. Ao reunir vozes plurais no Museu do Ipiranga, o Fórum afirma que a democracia só se realiza quando reconhece a diversidade de modos de pensar, viver e conhecer. A importância do evento não está apenas nos nomes presentes, mas no princípio que o sustenta: a neurodiversidade como valor público, condição de inovação e fundamento de uma sociedade justa. É nesse movimento que o Brasil se coloca como sujeito político de um debate global.”
— Guilherme de Almeida, presidente da Autistas Brasil
Justiça Cognitiva e Epistemologias do Sul: o que está em jogo
Um dos pontos altos do Fórum é a mesa “Justiça Cognitiva e Epistemologias do Sul”, que aborda uma das disputas mais urgentes do nosso tempo: quais vozes e saberes são reconhecidos como legítimos. A noção de justiça cognitiva evidencia que garantir direitos formais não basta quando a vida é regulada por um único modelo de conhecimento — frequentemente eurocêntrico e biomédico. A mesa propõe romper essa hegemonia, valorizar a pluralidade de saberes e reconhecer conhecimentos situados (comunitários, indígenas, negros, periféricos, feministas, neurodivergentes) como condição para a democracia. O objetivo é claro: mostrar que pluralidade epistemológica não é detalhe acadêmico, mas critério de inclusão efetiva, especialmente para grupos historicamente marginalizados — entre eles, pessoas neurodiversas.
Importância do Fórum
- Impacto social imediato: articula redes, políticas e práticas de inclusão, do ensino básico à universidade e ao trabalho.
- Inovação e futuro: evidencia como potencialidades neurodivergentes impulsionam criatividade, ciência e soluções públicas.
- Protagonismo brasileiro: organiza um campo plural que tem o Brasil como sujeito político, e não apenas receptor de modelos externos.
“O Fórum DiversaMente é um chamado ao Brasil e ao mundo. É um espaço em que a ciência se encontra com a experiência vivida, em que a democracia se mede pela pluralidade de vozes que consegue acolher e ouvir. Evento não se limita a uma conferência: é a afirmação de que a diferença é princípio constitutivo da vida social e fundamento da democracia. Aqui, a neurodiversidade se afirma como valor público, critério de justiça e horizonte de futuro.”
— Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla, presidente do Conselho Científico do Fórum
Serviço
Data: 20 de outubro de 2025
Local: Museu do Ipiranga — Rua dos Patriotas, 100, Ipiranga, São Paulo/SP
Horário: 8h às 19h
Entrada: gratuita, mediante credenciamento
Programação
08h00 — Credenciamento e acolhimento
Recepção dos participantes, orientações iniciais, entrega de materiais e encaminhamento aos espaços do evento.
09h00 — Fala institucional de abertura — Profª. Dra. Juliana Izar da Fonseca Segalla (Universidade de Coimbra)
Abertura enfatizando neurodiversidade, justiça cognitiva e valorização da diferença como fundamentos de uma sociedade plural e inclusiva.
09h15 — Justiça Cognitiva: Epistemologias do Sul, diferença e o direito de ser — Profª. Dra. Ana Katia Alves dos Santos (UFBA) | Prof. Guilherme de Almeida (UNICAMP; Presidente da Autistas Brasil)
Debate sobre justiça cognitiva a partir das Epistemologias do Sul, ressaltando a diferença como valor constitutivo e o direito de ser como fundamento ético-político — mesa que aprofunda a disputa por legitimidade de saberes e propõe romper a hegemonia eurocêntrica e biomédica nas políticas de saúde e educação.
10h30 — Lançamento da Federação Brasileira de Neurodiversidade — Pres. Silvano Furtado da Costa e Silva
Apresentação da Federação e seus objetivos de articulação nacional para promoção de direitos e inclusão.
12h00 — Intervalo para almoço + visitação exclusiva ao Museu do Ipiranga
Pausa para almoço e visita aos espaços expositivos do Museu, favorecendo intercâmbio entre participantes.
14h00 — Neurodiversidade em Primeira Pessoa: para além do diagnóstico — com a participação de pessoas neurodivergentes
Diálogo sobre experiências e saberes que ultrapassam a dimensão diagnóstica, afirmando a neurodiversidade como identidade, potência e forma legítima de existência.
16h00 — Neurodiversidade no Entre-Lugar: sentidos em disputa e horizontes de inclusão — Prof. Dr. Francisco Ortega
Análise crítica da neurodiversidade como campo de disputas conceituais e práticas; proposição de horizontes para sociedades mais justas e inclusivas.
17h15 — A dignidade humana e o dever de solidariedade — Ministra Cármen Lúcia (Supremo Tribunal Federal)
Palestra que traz como subtítulo “O reconhecimento das diferenças e a inclusão como caminhos de efetividade dos direitos fundamentais”, propondo um olhar constitucional e democrático sobre a neurodiversidade e o papel do Estado na garantia dos direitos das minorias cognitivas.
18h15 — Potencialidades neurodivergentes e a construção de futuros possíveis — Prof. Dr. Lawrence Fung (Stanford University)
Como potencialidades neurodivergentes impulsionam inovação, inclusão e construção de futuros sustentados na diversidade cognitiva e social.
18h30 — Coquetel e apresentação artística
Confraternização com coquetel de Murilo Selva e performance da companhia ZU-UK.
CLIMA DE ROMANCE – Amor, autismo e aquecimento global
A companhia anglo-brasileira ZU-UK, reconhecida internacionalmente por sua criação em intersecções entre arte, deficiência, tecnologias interativas e teatro imersivo, apresenta a experiência singular “Encontro Romântico Binaural”. Exibido em países como Reino Unido, Macau, Colômbia, Brasil e Grécia, o espetáculo chega ao Fórum DiversaMente em uma versão inédita, incorporando como eixo temático as mudanças climáticas.
Com foco especial no público adulto no espectro do autismo, a performance propõe uma reflexão crítica sobre afeto, subjetividade e autoconhecimento em tempos de urgência planetária.
Destaques
- Ministra Cármen Lúcia (STF): ministra do Supremo Tribunal Federal e referência na defesa da Constituição e dos direitos fundamentais. Sua palestra integra o Fórum com tema inédito, reforçando o papel da justiça na promoção da inclusão e da dignidade humana.
- Prof. Dr. Lawrence Fung (Stanford University): referência mundial sobre neurodiversidade e diretor do Stanford Neurodiversity Project; atuação também atravessada por sua experiência como pai de um jovem autista.
- Prof. Dr. Francisco Ortega: filósofo de renome internacional, um dos mais influentes pensadores contemporâneos sobre neurodiversidade; coautor de Being Brains: Making the Cerebral Subject (Princeton, 2017).
- Profª. Dra. Juliana Izar da Fonseca Segalla (Universidade de Coimbra / UENP): mulher autista e surda; pesquisadora em Democracia e Direitos Humanos; vice-presidente da Autistas Brasil; integrante do Comitê da Pessoa com Deficiência no âmbito Judicial do CNJ.
Sobre a Autistas Brasil
A Autistas Brasil atua desde 2020 na defesa dos direitos das pessoas autistas, com foco em autodefensoria, educação inclusiva e inserção no mercado de trabalho. Fundada por lideranças autistas, tem como grande diferencial a autorrepresentação: pessoas autistas falando por si, com protagonismo e empoderamento. A associação atua de forma propositiva e não assistencialista, valorizando potencialidades individuais e transformando a visão social sobre o autismo.