OPINIÃO
- * Por Jairo Varella Bianeck
Escuto com olhos, com tato,
às vezes com som, às vezes no ato
de ler os lábios, a mão,
no silêncio uma intenção.
No gesto, que dança no ar,
na palma que vibra, pra me abraçar.
Na voz, que tenta alcançar
o que o ouvido já não pode captar.
Uso implante, legenda, instante.
Às vezes falo, assino,
escrevo um desatino.
Minha língua é ampla, a ponte é viva,
oral, tátil, gráfica, intuitiva.
Leio nos lábios, no toque,
nos sorrisos, no enfoque.
O mundo do meu jeito,
e meu silêncio tem direito.
Não sou ausência, sou linguagem.
Não sou ruído, sou paisagem.
Surdo, ouvinte, sinalizante,
gente, som vibrante.
Surdo oralizado, bilíngue,
quem sente, distingue
visão, som, pele, tudo é sinal.
Tenho perda parcial ou total,
em um ouvido, ou bilateral.
Surdez súbita, progressiva,
vida inteira ativa.
Não ouviu a porta,
escrevo, sinalizo. Na linha,
não preciso provar presença…
escutar é muito mais que sentença.
A escuta mora no que é compreendido,
na comunicação vivida.
Aprenda a escutar com o coração.
* Jairo Bianeck é Advogado dedicado ao direito das Pessoas com Deficiência e Direito de Família.