Negligenciar a acessibilidade hoje é ignorar o futuro do trabalho, aponta especialista

Negligenciar a acessibilidade hoje é ignorar o futuro do trabalho, aponta especialista

Estudo sobre carreira de pessoas com deficiência revela miopia corporativa diante da inversão da pirâmide etária, aliada ao aumento da longevidade e dos novos desafios de talentos; reter profissionais experientes será chave

As empresas que hoje falham em criar infraestrutura e planos de carreira para pessoas com deficiência (PcD) não estão apenas perpetuando a exclusão, mas ignorando tendências demográficas que irão redesenhar o mercado de trabalho. A análise é de Marcus Kerekes, CEO da Diversitera, que alerta: em um futuro próximo, a inclusão não será apenas uma escolha, mas uma condição para a sobrevivência dos negócios.

“Muitas lideranças tratam a acessibilidade como um problema distante. Esquecemos que todos envelhecemos e, com o tempo, perdemos funções corporais. Esse fator conectado com o salto evolucional das soluções de tecnologias assistivas e o aumento significativo esperado da expectativa da população, fará com que a oferta de uma mão de obra mais experiente permaneça produtiva por mais tempo. A falta de uma cultura inclusiva não é apenas uma barreira para os profissionais de hoje, mas um problema futuro contratado para colaboradores que amanhã precisarão desses mesmos recursos para continuar produtivos”, afirma Kerekes.

A análise é reforçada por dados do Censo 2022 (IBGE). No Brasil, quase metade (47,2%) da população com deficiência tem 60 anos ou mais. A prevalência de alguma limitação funcional salta de 5,4% na população adulta (15-59 anos) para mais de um quarto (27,5%) entre pessoas com 70 anos ou mais.

Enquanto a demografia aponta para um futuro desafiador, o presente corporativo já revela um cenário de estagnação. Segundo o estudo “Panorama da população com deficiência no mercado de trabalho formal brasileiro”, realizado pela Diversitera entre 2022 e 2025, 4,6% de profissionais ativos no mercado possuem algum tipo de deficiência, sendo que 27% das pessoas com deficiência consideram o ambiente de trabalho pouco ou nada acessíveis.

O ponto de intersecção entre a pauta PcD e o envelhecimento da força de trabalho se torna inegável ao analisar a natureza das deficiências mais comuns. O estudo “Diversidade Funcional no mercado de trabalho”, da própria Diversitera, detalha que o mercado hoje é majoritariamente composto por pessoas com deficiência física/motora (36%), visual (35%) e auditiva (16%). Não por acaso, são exatamente as condições funcionais que mais frequentemente surgem com o avanço da idade. A mensagem para as empresas é direta: a acessibilidade que você nega a um talento hoje é a mesma que seu líder mais experiente precisará amanhã para continuar produtivo. 

Esse despreparo se torna ainda mais arriscado diante de três realidades iminentes ressaltadas pelo executivo:

  • Inversão da pirâmide etária brasileira: o Brasil está passando por uma significativa transformação em sua estrutura etária, caracterizada pela inversão da pirâmide populacional. Esse fenômeno, que reflete o estreitamento da base e o alargamento do topo do gráfico de faixas etárias, sinaliza um país com menos jovens e uma população cada vez mais idosa. Dados recentes do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam e aceleram essa tendência. Com a base de jovens encolhendo e o topo de idosos se alargando, a força de trabalho experiente se tornará um ativo cada vez mais raro e valioso.
  • Fuga das novas gerações do modelo de trabalho convencional: estudos de consultorias como a McKinsey indicam que até 50% da Geração Z considera deixar seus empregos nos próximos meses, buscando flexibilidade, propósito e ambientes psicologicamente seguros — demandas que o mercado formal, com sua rigidez e falta de inclusão, raramente oferece. A Geração Alpha, que chegará em breve ao mercado, tende a radicalizar esse movimento, priorizando a economia de criadores e projetos autônomos em detrimento do emprego tradicional.
  • Reforma da previdência X aumento da expectativa de vida: enquanto a porta de entrada de talentos se estreita com a evasão dos mais jovens, a porta de saída foi efetivamente trancada pela nova realidade demográfica e econômica. O conceito de aposentadoria como uma linha de chegada previsível está em colapso, e a matemática por trás disso é irrefutável. De um lado, as projeções do IBGE indicam que a expectativa de vida continuará a subir, com estimativas de que, por volta de 2060, a esperança de vida média do brasileiro possa ultrapassar os 81 anos, o que exige um sustento financeiro muito mais longo. Do outro, o Estado formalizou o fim do modelo antigo com a Reforma da Previdência (EC 103/2019). Essa emenda não foi um mero ajuste: ela estabeleceu idades mínimas de 62 e 65 anos, extinguiu a aposentadoria por tempo de contribuição para novos entrantes e endureceu o cálculo dos benefícios. Na prática, trabalhar até os 65 ou 70 anos deixou de ser uma escolha para se tornar a nova norma — uma realidade econômica imposta que as estruturas corporativas atuais, despreparadas para carreiras de longo prazo, são incapazes de sustentar.

Nesse cenário, reter profissionais experientes por mais tempo será uma necessidadeaponta o especialista. “Ignorar as adaptações que surgem com o envelhecimento significará descartar um capital intelectual impossível de repor”, alerta Kerekes. “A presença de PcDs na liderança hoje está muito ligada a pessoas que já eram seniores quando adquiriram uma deficiência. O verdadeiro desafio, e a decisão mais inteligente, é construir uma estrutura que impulsione todos os talentos. A empresa do futuro será aquela que souber cuidar de seus profissionais em todas as fases da vida”, conclui.

Sobre a Diversitera

A Diversitera é uma startup dedicada à promoção da equidade social e econômica em organizações de diversos perfis, transformando Diversidade e Inclusão em pilares estratégicos. Com uma equipe experiente e apaixonada por dados, a empresa oferece uma gama de serviços, incluindo censo diagnóstico de DEI, consultoria, ações de comunicação institucional e capacitação. Seu principal recurso é a Diversitrack, uma  plataforma SaaS  para coleta de dados que proporciona uma análise aprofundada de indicadores, identificando urgências e estabelecendo prioridades para ações mais eficazes no curto, médio e longo prazos nas organizações. Em sua nova versão, com mais atributos e facilidades, somada a  uma metodologia exclusiva, a  conformidade com a LGPD, e a disponibilidade em múltiplos  idiomas, a Diversitrack se posiciona como a ferramenta mais completa da atualidade.

Site: https://www.diversitera.com 

Linkedin: https://www.linkedin.com/company/diversitera/

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