Orquestra formada por pessoas com deficiência visual estreia em Joinville

Orquestra formada por pessoas com deficiência visual estreia em Joinville

Grupo reforça o papel da música como ferramenta de inclusão e transformação social

No mês de outubro Joinville foi palco de uma noite histórica e inesquecível. O evento Sons e Sensaçãoes, marcou a estreia da Orquestra de Pessoas com Deficiência Visual da AJIDEVI (Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais) reuniu dezenas de músicos e coralistas que, ao lado do público, protagonizaram um espetáculo de diversidade e inclusão.

A ideia da orquestra nasceu há cerca de três anos, quando o músico e regente Nery Júnior, formado pelo Belas Artes Joinville, iniciou seu trabalho na AJIDEVI. Ao perceber o potencial dos alunos e a estrutura disponível na instituição, ele começou a sonhar com um projeto coletivo. “Meu planejamento foi ensinar o mesmo repertório em diferentes instrumentos, tudo na mesma tonalidade, para depois juntar e formar a orquestra. Ver esse sonho se concretizar no palco foi emocionante”, afirmou o maestro.

O processo de formação envolveu dedicação e paciência. Muitos integrantes não tinham experiência prévia com música, mas encontraram no aprendizado uma forma de superar barreiras e redescobrir o prazer de estar em grupo. “Não são todos músicos profissionais. São pessoas que perderam a visão em diferentes momentos da vida e que encontraram na música acolhimento, terapia e, agora, a oportunidade de se apresentarem diante de um público”, contou Nery.

Diversidade no palco

O espetáculo apresentou um repertório eclético e brasileiro, com baião, xote, Tonico & Tinoco, Jota Quest e Tom Jobim. No palco, estavam um baterista profissional, um jovem tecladista em formação, flautistas, violonistas, coralistas e até um grupo de cordas iniciante. “Essa diversidade mostra que a deficiência não limita talentos. Tivemos jovens, adultos e idosos, cegos totais e pessoas com baixa visão, todos unidos pela música”, destacou o regente.

Foi uma noite de muito som e de diversas sensações. Muitos relataram se sentir inspirados pelas histórias de vida dos músicos, que transformaram desafios em potência artística. “A música tem essa força: ela transmite emoção de forma única. O que vimos aqui foi inclusão acontecendo no palco, com autenticidade e sensibilidade”, comentou uma espectadora ao final da apresentação.

Inclusão e inovação cultural

A orquestra chama atenção não apenas pelo repertório, mas pelo seu caráter inovador: todos os integrantes, incluindo o maestro, têm deficiência visual. “Em Joinville nunca houve uma experiência semelhante, e acredito que em Santa Catarina também não. É um marco cultural para a cidade e para a comunidade de pessoas com deficiência”, afirmou Nery.

No Brasil, a principal referência é a Orquestra de Cantores Cegos, do Espírito Santo, mas o diferencial joinvilense é reunir músicos, cantores e regente com deficiência visual em um mesmo grupo instrumental e coral. “É um exemplo de como a arte pode ampliar horizontes e criar novas possibilidades para além das limitações físicas”, complementou o maestro.

Sem patrocinadores além do apoio da AJIDEVI e do espaço cedido pelo Belas Artes Joinville, a orquestra contou com a energia do público como seu maior incentivo. “Neste momento inicial, a melhor forma de apoiar é prestigiar, compartilhar e dar visibilidade. Esse retorno da plateia é o combustível para que possamos crescer e consolidar o projeto”, destacou Nery.

Próximos passos

A estreia foi apenas o começo. A orquestra já tem participação confirmada no Natal de Joinville (Natal Luz), em novembro, na Travessa Bachmann, e deve iniciar ensaios para um repertório natalino nas próximas semanas. A expectativa é que, com a repercussão positiva, novas parcerias se somem à iniciativa.

“Ver os integrantes se emocionando no palco, muitos pela primeira vez em uma apresentação, foi uma experiência inesquecível. A estreia mostrou que a música é capaz de transformar vidas e de sensibilizar toda uma comunidade. Este foi apenas o primeiro capítulo de uma história que promete muitos outros momentos marcantes”, concluiu o maestro Nery.

CRÈDITO/IMAGENS: Rosana Barbosa Soares

Compartilhe esta notícia:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Aviso de Direitos Autorais

Todos os direitos sobre os conteúdos publicados em todas as mídias sociais do Diário PcD, incluindo textos, imagens, gráficos, e qualquer outro material, estão reservados e são protegidos pelas leis de direitos autorais.
Todos os Direitos Reservados.
Nenhuma parte das publicações em todas as mídias sociais do Diário PcD devem ser reproduzidas, distribuídas, ou transmitidas de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação, ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito do titular dos direitos autorais, de acordo com a legislação vigente.
Para solicitações de permissão para usos diversos do material aqui apresentado, entre em contato por meio do e-mail jornalismopcd@gmail.com ou telefone 11.99699 9955.
A infração dos direitos autorais é uma violação de Lei Federal 9.610, passível de sanções civis e criminais.

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore