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  • seg. abr 29th, 2024
*OPINIÃO - DIA INTERNACIONAL DO CÃO GUIA - 25 de Abril

** Por Oliveiros Barone Castro (Lelo)


Nesta data, onde se comemora o Dia Internacional do Cão Guia, proponho que, daqui para frente comemoremos o Dia Internacional dos Cães de Assistência.


Sem nenhuma intenção de tirar o brilho e a importância individual, social e histórica dos cães guia, ao contrário pois sou pesquisador e estudioso de tudo que envolve esse tema, venho aqui levantar uma discussão.


Historicamente o cão guia foi o primeiro cão de assistência como hoje conhecemos e denominamos, direcionado para auxiliar uma pessoa diante de sua deficiência, ou seja cegueira ou baixa visão.


A história da utilização de cães para ajudar pessoas cegas em épocas mais distantes ficou perdida no tempo, pois não existem registros específicos escritos nesse sentido, porém alguns achados arqueológicos nos revelam essa realidade.


Pesquisando mais a fundo encontrei achados arqueológicos onde consta que uma grande erupção do vulcão Vesúvio no ano de 79 dc no período do Império Romano, soterrou a cidade de Pompéia e em uma das paredes mostra uma pintura antiga do que seria um cão conduzindo uma pessoa, provavelmente cega.


A evolução do treinamento dos cães guia está intimamente ligado principalmente à 1ª. e 2ª guerras mundiais, onde se usou o gás de cloro como arma química, cegando milhares de soldados no front de batalha. As bengalas foram primeiro utilizadas para ajudarem na locomoção dessas pessoas e em seguida o cão.


Fica claro que os cães guia tem um lugar de destaque no contexto dessa história e são os mais conhecidos socialmente, porém existem outros cães de assistência que exercem funções igualmente importantes e não são conhecidos.


As denominações se alteram dependendo do país e podem causar confusões e, por esse motivo propus uma classificação dos cães de assistência com nomenclatura dividida por grupo e por função que é mais próxima da nossa cultura e mais fácil de entender, sendo que ela já está sendo utilizada em países da América Latina além do Brasil.


No grupo dos cães de assistência temos:

Cão de assistência de apoio emocional (para pessoas com questões psicológicas e/ou psiquiátricas, bem como transtornos e síndromes diversas)

Cão de Assistência para PcDs (para pessoas com questões de mobilidade reduzida superior e/ou inferior, tetraplegia, cadeirante e outras questões que afetem a mobilidade)

Cão de Assistência de alerta médico (para pessoas que apresentam picos de glicemia, episódios de epilepsia e que apresentam sensibilidade a alguma substância que não pode entrar em contato ou consumir como glúteo por exemplo)

Cão de Assistência Ouvinte (para pessoas com baixa audição ou surdas)

Cão de Assistência guia (para pessoas com baixa visão ou cegas)

Como podemos observar na classificação, todas as funções que um cão de assistência venha a exercer são muito importantes e podem mudar ou salvar a vida de muitas pessoas.
É nosso dever divulgar que existem outros cães de assistência além dos cães guia e que, cada vez mais estarão com seus parceiros humanos entre nós em meio social e ambos precisam e devem ser aceitos e respeitados.

Minha luta de longos anos também baseia-se na elaboração de uma lei federal que (já redigi essa lei), assim como a lei do cão guia venha proteger, abarcar e dar os mesmos direitos a esses outros cães de assistência e pessoas que com eles estabelecem parceria.
Abaixo indico e ofereço trechos de minha dissertação para leitura aos amigos e parceiros que abordam o tema cães guia.
Abraço.


** Oliveiros Barone Castro (Lelo) é psicólogo clínico, mestre pela PUC-SP com pesquisa sobre Orientação e Mobilidade em duplas usuário/cão guia, especializações em: psicologia do esporte (FMU-SP), violência doméstica (USP-SP), comportamento e na relação humano/animal (UNIFEOBRGS), Intervenção Assistida por Animais (UNISA-SP), palestrante e professor em cursos de formação e Pós-Graduações, psicólogo responsável pelo Busca Pet que levou a criação do programa da Net Geo com o nome Radar Pet, com Jorge Pereira da Unidade K9 Internacional.
É fundador responsável da Instituição Cães de Assistência – Núcleo Brasileiro de Formação e Treinamento que treina e entrega cães de assistência para as várias funções. Também é responsável técnico pelo Instituto Meus Olhos tem 4 Patas (MO4P) que treina e entrega cães guia e avalia os cães entregues pelo Projeto cão Guia do SESI-SP.

Contatos:
Celular: (11) 97355-6085
e-mail:baronelelo@gmail.com contato.caesdeassistencia.com.br
Insta: @caesdeassistencia
www.caesdeassistencia.com.br

RELAÇÕES ENTRE PERCEPÇÃO AUDITIVA E ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE EM UM GRUPO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL USUÁRIAS DE CÃO GUIA


“Dissertação de Mestrado apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Fonoaudiologia”
Desde os primórdios da humanidade, espontaneamente algumas pessoas com deficiência visual passaram a usar algum tipo de ‘bengala’ para se locomover, como cajado, bastão, vara de bambu ou galho de árvore. No século passado foi institucionalizada a ‘bengala branca’ como um símbolo da cegueira, porém a primeira forma sistematizada e eficaz para locomoção das pessoas cegas foi o cão guia (FELIPPE, 1997; FELIPPE, 2011).


Observa-se a utilização de cães não somente no contexto terapêutico, mas também como auxiliares para minimizar efeitos de diversos tipos de deficiência. Neste caso, os cães são treinados para acompanhar indivíduos com deficiência visual, auditiva ou motora, melhorando a qualidade de vida de seus usuários e atuando como animais de ajuda social (LIMA, 2004). A propósito, Hall (2017) aponta que, possuir um cão de assistência traz benefícios significativos e aumento da qualidade de vida para pessoas com deficiência física ou auditiva.


Alguns aspectos importantes na deficiência visual se referem aos conceitos
de orientação e mobilidade. Segundo indicativo do Ministério da Educação e Cultura (MEC) na combinação destes dois conceitos, a expressão significa: mover-se de forma orientada, com sentido, direção e utilizando-se de várias referências como pontos cardeais, lojas comerciais, guias para consulta de mapas, informações com pessoas, leitura de informações de placas com símbolos ou escrita para chegar ao local desejado (GIACOMINI; SARTORETTO; BERSCH, 2010).


Nesse contexto, para a pessoa que perdeu a função da visão, tomar consciência do seu esquema corporal e aprender a utilizar adequadamente os sentidos remanescentes como a audição, tato, olfato, paladar e sinestesia corporal ou sensações sensoriais (sensação de quente/frio, áspero/liso, assim como perceber o sentido do vento ou dos deslocamento de ar) para se orientar em qualquer espaço é de fundamental importância para aplicar as técnicas de OM.


Enquanto as pessoas videntes formam e comprovam muitos conceitos informalmente, as pessoas com deficiência visual necessitam de uma apresentação estruturada dos mesmos para assegurar um desenvolvimento adequado dos fundamentos a eles relacionados (WELSH; BLASH, 1980).


Outro fator a ser observado é a importância dos procedimentos e todas as orientações técnicas que se aprende em cursos de Orientação e mobilidade para serem aplicadas quando em deslocamento em ambiente urbano no uso de bengala ou de cão guia, porém o que também ficou evidente nessa pesquisa, como já foi citado na discussão, foi o fato de que a maioria dos usuários de cão guia tenha feito curso de OM entre 02 e 34 anos atrás, ou seja, muitos dos usuários não aplicam mais as técnicas adequadamente ou mesmo já esqueceram como deveriam ser aplicadas ou ainda adquiriram vícios diferentes dos procedimentos. Por esse motivo deve se dar mais importância às avaliações técnicas periódicas pós entrega dos cães, principalmente para usuários que já estão no seu segundo cão em diante, pois são esses usuários que podem incorrer nos citados vícios de procedimento, podendo colocar a dupla em risco, pelo suposto excesso de confiança em processo de orientação e mobilidade.


Insisto em afirmar que se faz necessário a aplicação adequada de uma metodologia aqui proposta da técnica de OM específica para usuários de cão guia com todas as suas particularidades, dentro dos mesmos critérios técnicos que são utilizados para usuários de bengala. Indicadores nesse sentido são comprovados (inclusive pelos resultados obtidos por esta pesquisa) com a elaboração do
Questionário de Caracterização dos Sujeitos em conjunto com o Questionário de Avaliação Funcional de Orientação e Mobilidade (avaliação técnica de dupla deficiente visual / cão guia), que fizeram parte dessa pesquisa e cumpriram adequadamente a função avaliativa a que se propuseram.


Segundo Faraco (2008), há um interesse crescente do meio científico a respeito do vínculo entre humanos e animais, e as investigações acadêmicas têm validado esse novo campo interdisciplinar de conhecimento e pesquisa. Esta abordagem científica implica a necessidade de definir todas as expressões adotadas, incluindo a própria expressão “relação humano-animal”, conceituada como uma relação dinâmica e mutuamente benéfica entre pessoas e outros animais, influenciada pelos comportamentos essenciais para a saúde e bem-estar de ambos. Isso inclui as interações emocionais, psicológicas e físicas entre pessoas, demais animais e ambiente (AVMA, 2005). Um dos benefícios da presença de animais na vida das pessoas é a sua companhia. Cavalos, cães e gatos, na sociedade moderna, são referidos como “animais de companhia” por estabelecerem fortes vínculos emocionais recíprocos com os humanos.


Com a experiência adquirida até hoje no Brasil, podemos considerar que já possuímos uma metodologia própria para todo o processo de treinamento e formação de cães guia, bem como de formação de instrutores e treinadores e mesmo em número reduzido, podemos dizer que algumas poucas instituições estão gabaritadas a desenvolverem um bom trabalho nessa área. Vale ressaltar que ainda encontramos sérias dificuldades em manter tais instituições em funcionamento devido a questões culturais, atrelada à desinformação da sociedade sobre cães de assistência, falta de apoio governamental e financeiro que dificulta a possibilidade de se manter um trabalho sequencial e de se entregar mais cães guia por ano.


Mesmo assim, alguns institutos estão sendo viabilizados e colocados em funcionamento, tanto pelo poder público federal como através de iniciativas privadas, abrindo um novo horizonte nessa área, apesar de ainda se manter apenas a possibilidade de treinamento exclusivo de cães guias nesses centros de treinamento e não de outros cães de assistência como um todo. Tal visão e postura inviabiliza a possibilidade de se ampliar o atendimento a outras inúmeras pessoas com algum tipo de necessidade especial e que poderiam ser beneficiadas através do exercício da função de um cão de assistência, por exemplo, pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes, pessoas diagnosticadas dentro do espectro autista (TEA), pessoas surdas, pessoas com transtorno pós-traumático (TEPT), transtorno do pânico (TP), transtorno de ansiedade generalizada (TAG), pessoas em determinados estados depressivos, dentre outras, já que no processo de treinamento de um cão guia, em média a exclusão (o chamado descarte) é de 40% a 50% dos cães em fases diferentes do treinamento e que poderiam ser direcionados a outra função de assistência, avaliando adequadamente os motivos pelos quais o cão foi retirado do processo de treinamento para guia e observando sua saúde e se tem comportamento e temperamento adequados, bem como aptidões e habilidades para exercer outra função de assistência.


Entendo que os centros de treinamento e instituições que treinam apenas cães guia deveriam rever suas posições nesse sentido e estabelecer parceria com instituições e treinadores certificados que treinam outros cães de assistência, para que possamos atender no país pessoas com outras deficiências e/ou necessidades específicas, além da pessoa cega ou com baixa visão, sendo que temos os outros cães de assistência e suas funções conforme as denominações propostas pela Instituição Cães de Assistência- Núcleo brasileiro de Formação e Treinamento: 1. Cães de apoio emocional; 2. Cães para PcDs, 3. Cães de alerta médico; 4. Cães Ouvintes e 5. cães guia.


Um fator positivo a se destacar é o fato de hoje se encontrar pesquisas acadêmicas que abordam temas e assuntos correlatos, ampliando a discussão para além dos cães guia especificamente, mas também para outros cães de assistência e cães de terapias, mesmo que ainda sejam em número reduzido, porém a perspectiva é promissora na área da pesquisa.

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