** Por Carolina Ignarra, CEO do Grupo Talento Incluir
O preconceito é uma barreira para a inclusão da diversidade. Mas, aquilo que fazemos com os nossos preconceitos e crenças limitantes é uma barreira ainda maior e com mais interferência negativa no processo.
Conformar-se com o fato de ser preconceituoso é ainda pior que ter preconceito. Portanto, ao assumirmos que somos todos preconceituosos em desconstrução, nos motivamos a buscar informações que vão nos ajudar a tomar decisões mais inclusivas, respeitosas e que valorizam as diferenças das pessoas. Isso é a sabedoria inclusiva. Também é assim que vamos parar de usar essa realidade como desculpa para continuar a oprimir pessoas por suas diferenças.
Apenas buscar informação não torna ninguém inclusivo de fato. Só é possível atuar a favor da diversidade na sociedade como um todo quando aliamos nossos conhecimentos com a experiência de conviver com grupos sociais diferentes daqueles que estamos inseridos e com diferenças que não estão em nós. Quanto mais sabedoria inclusiva mais conseguimos evitar comportamentos que impedem a inclusão.
Esse é o maior desafio: sensibilizar a sociedade para os benefícios da cultura de inclusão e que é potencializada quando essa mudança ocorre por convicção e não por obrigação. Como mulher cadeirante, já vi muita rampa ser construída apenas por imposição da lei ou em decorrência de processos judiciais. Porém, em muitos casos, as rampas são inclinadas demais, impossibilitando o acesso de quem tem baixa mobilidade ou usa cadeira de rodas. Isso configura um desinteresse total em atender de fato a quem precisa desse acesso.
Por outro lado, quando a necessidade por acessibilidade é compreendida e consciente, temos transformações estruturais de fato acessíveis e úteis para pessoas com deficiência.
A exclusão é um mau negócio. Um estudo realizado em 2015 pela McKinsey que envolveu o Brasil, Reino Unido e Estados Unidos já apontava que empresas com políticas estruturadas de incentivo à diversidade apresentavam performance financeira 30% maior que as empresas que não tinham.
Apesar da lei de Cotas, que já completou 30 anos de vigência, de acordo com informações do Ministério do Trabalho, 46,98% das empresas no Brasil ainda não a cumprem. Os motivos são inúmeros e vão desde o preconceito contra a capacidade laboral do profissional só por ele ter deficiência, o que não leva em conta seu talento, até a falta de informação sobre acessibilidade arquitetônica e tecnológica necessária para contratá-lo.
As empresas têm um papel fundamental para não deixar que o preconceito impacte a cultura organizacional para inclusão, a partir de três importantes atitudes inclusivas que ajudam a promover um ambiente de segurança psicológica, acolhedor que reconhece, incentiva e valoriza as diferenças das pessoas. São elas:
Conscientização: oferecendo informação sobre todos os grupos sociais e inserir o tema como indicador estratégico com métricas de desempenho para todos os setores;
Inclusão, por meio de contratação de pessoas diversas respeitando a equidade e flexibilizando exigências que excluíam e fazia o mundo corporativo ser tão homogêneo;
Continuidade de carreira, oferecendo plano de desenvolvimento profissional para pessoas dos grupos sociais e medir a qualidade das contratações por meio de acompanhamento contínuo e formal das pessoas diversas e seus gestores diretos.
Incluir é sinônimo de respeitar. Para isso precisamos quebrar as barreiras do preconceito trazendo cada vez mais aliados às causas de inclusão da diversidade, engajar as pessoas com humanidade e empatia.
Um estudo do criador do conceito de Neuroliderança, David Rock, indica que o cérebro humano aciona a mesma área quando uma pessoa sente dor física ou quando está se sentindo excluída. Isso significa, da forma mais cruel, que a exclusão causa dor.
O Brasil deveria ser exemplo de inclusão, dado sua dimensão territorial, por toda a miscigenação do povo e da cultura. No entanto, mesmo com a diversidade no seu DNA, há 12 anos vem amargando o primeiro lugar entre os países que mais matam transgêneros no mundo, de acordo com dados divulgados pela Associação Nacional de transexuais e Travestis (ANTRA).
A verdade é que a inclusão é não deixar ninguém de fora. Agir contra atitudes opressoras e preconceituosas é derrubar as barreiras que impedem o direito de qualquer pessoa aprender, trabalhar e buscar conhecimento quando, onde e como ela quiser. É colocar de vez um ponto final à intolerância desumana que se sobrepõe ao direito de uma pessoa, independente de sua religião, idade, gênero, cor de pele, orientação sexual, condição de deficiência etc. É melhorar o mundo conscientizando a humanidade que a inclusão deve ser feita com as pessoas e nunca contra elas.
* OPINIÃO reflete apenas e somente o ponto de vista do autor. A reprodução é autorizada, desde que citada a fonte.
** Carolina Ignarra é CEO e fundadora da Talento Incluir, consultoria que já incluiu mais de 8 mil profissionais com deficiência no mercado de trabalho. É influencer do LinkedIn e está entre as 20 mulheres mais poderosas do Brasil da revista Forbes em 2020.