Mais de 538 mil gaúchos estão desalojadas diante da catástrofe que atinge 446 municípios no RS, várias famílias, incluindo as atípicas, tentam lidar com as crises de vulnerabilidade
A recente catástrofe que assola o Rio Grande do Sul trouxe à tona não apenas a devastação física das áreas afetadas, mas também expôs a vulnerabilidade das diversas famílias que lutam para lidar com os efeitos desse desastre. Além dos desafios comuns que se originam a partir dessa catástrofe ambiental, há quem enfrenta problemas adicionais, como famílias atípicas e com outras necessidades especiais.
Segundo o último boletim da Defesa Civil, as fortes chuvas impactam mais de 446 municípios, resultando em 148 óbitos, 124 desaparecidos, 806 feridos, mais de 80 mil pessoas em abrigos e 2.124.203 pessoas afetadas.
Enchentes, deslizamentos de terra, desabamento de pontes, ausência de rede de telefone, falta de luz, água potável e comida não escolhem suas vítimas, o importante é que a sociedade se organize para auxiliar no resgate, acolhimento e cuidado dos sobreviventes para, posteriormente, auxiliá-los na reconstrução de suas vidas. Mas como devemos agir em caso de desastres?
De acordo com (IASC, 2007) as intervenções de saúde mental e atenção psicossocial devem ser acionadas nas primeiras horas após um desastre, observando os quatro níveis de intervenção, a depender da complexidade das necessidades da população atendida. Importante ressaltar que, esses passos devem ser seguidos caso você não esteja exatamente no local onde aconteceu a fatalidade, mas próximo:
Nível 1 – Foco na preservação da vida e dignidade humana: nos estágios iniciais, os esforços devem ser concentrados em garantir alimentos, água, abrigo e atendimento básico de saúde para todos os afetados.
Nível 2 – Apoio especializado e não especializado: grande parte da população conseguirá lidar com o sofrimento pós-desastre, mas serviços especializados e apoio focado podem ser benéficos para aqueles que precisam de ajuda adicional.
Nível 3 – Reconstrução comunitária: a mobilização comunitária e o apoio às redes sociais e afetivas são essenciais para a reconstrução da comunidade. Isso pode incluir ações como reunificação familiar, apoio no processo de luto, cerimônias comunitárias, programas de apoio aos pais e atividades educacionais e de subsistência.
Nível 4 – Apoio psicológico: para aqueles com sofrimento mental leve a moderado, o apoio individual ou familiar e os primeiros cuidados psicológicos são importantes. Para casos mais graves, é crucial oferecer cuidados especializados de saúde mental.
No Brasil, diversas instituições se mobilizam em prol de ajudar as vítimas, uma delas está localizada em Porto Alegre–RS, o Instituto Colo de Mãe, especializado em acolher mães atípicas, que em um primeiro momento, improvisou uma estrutura em uma academia de ginástica para dar apoio às famílias de crianças com autismo utilizando os quatro níveis acima.
Uma catástrofe ambiental, além de ser inesperada, pode impactar muito mais as famílias atípicas, aquelas com membros que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para compreender o peso dessa situação é crucial considerar como a rotina e o ambiente são essenciais para indivíduos autistas. A ruptura repentina causada pela evacuação e a permanência em abrigos temporários podem ser extremamente angustiantes para essas crianças e suas famílias.
A mudança abrupta de rotina, a sobrecarga sensorial e a falta de familiaridade com o ambiente podem desencadear crises de ansiedade e desconforto significativos. Diante desse cenário, o abrigo Colo de Mãe possui musicoterapeutas, psicólogos, terapeuta ocupacional e acompanhantes terapêuticos. Além disso, as crianças possuem um cuidado médico através da visão do neuropediatra e pediatras especializados.
“Neste momento o papel dos profissionais da saúde se torna ainda mais vital. Profissionais treinados em lidar com as necessidades específicas das crianças autistas podem oferecer suporte emocional tanto para os indivíduos quanto para suas famílias. Estratégias de autorregulação, previsibilidade, suportes para a comunicação do indivíduo e adaptação do ambiente podem ajudar a minimizar o impacto negativo dessa situação desafiadora”, comenta a Diretora Clínica da Genial Care, Alice Tufolo.
Com o número de pessoas afetadas aumentando, as famílias atípicas com crianças serão transferidas para um prédio mais seguro, com alguns quartos para acomodar os pequenos, banheiros e muitos voluntários prontos para recebê-los. Por requisitos da prefeitura, os autistas adultos deverão ficar em outro abrigo com a mesma segurança e cuidados promovidos pelo Colo de Mãe.
Eles poderão ficar nesse novo abrigo durante o tempo indeterminado e contarão com suporte profissional. No entanto, para eles conseguirem se manter, o Instituto pede doações como roupas infantis de frio, cobertores quentes e sapatos tamanho 22, 26 e 27. As doações podem ser entregues na unidade ou através do pix. Para mais informações acesse as redes sociais @somoscolodemae.
Mesmo em abrigos ou para famílias que não deixaram suas residências, algumas ações são importantes para os autistas, como:
1) Comunicação clara e direta: garantir que as crianças autistas entendam o que está acontecendo, usando linguagem simples e direta, pode ajudar a reduzir a ansiedade. Se necessário, devem ser utilizados visuais como histórias narrativas e suportes visuais no geral para a criança entender o que está acontecendo.
2) Manter rotinas consistentes: dentro do possível, tentar manter algumas rotinas familiares, mesmo durante a permanência em abrigos temporários, pode proporcionar um senso de segurança e previsibilidade.
3) Oferecer estímulos sensoriais adequados: ter acesso a itens sensoriais familiares, como brinquedos ou objetos reconfortantes, pode ajudar a acalmar as crianças autistas em momentos de estresse.
4) Buscar apoio da comunidade: conectar-se com outras famílias que estão passando pela mesma situação pode oferecer um senso de apoio e solidariedade, além de oportunidades para compartilhar estratégias de enfrentamento.
Genial Care
A Genial Care é uma rede de cuidados de saúde atípica referência na América Latina. Especializada no cuidado e desenvolvimento de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e suas famílias. Unindo modelos terapêuticos próprios, suporte educacional e tecnologia de ponta para maximizar a qualidade de vida e o bem-estar de todas as pessoas envolvidas no processo de intervenção. Atualmente conta com um time de mais de 200 pessoas, unidas pelo propósito de garantir que toda criança atinja o seu máximo potencial.