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  • qui. nov 21st, 2024

Pastor afirma que diabo entra no ventre da mãe e causa autismo na criança. Depois, pede desculpas

Pastor afirma que diabo entra no ventre da mãe e causa autismo na criança. Depois, pede desculpas

Pastor que se intitula “pastor itinerante e guardião do altar” em fala capacitista e discriminatória causa revolta nas redes ao dizer que autismo é “coisa do diabo”. Em vídeo publicado em suas redes sociais, o religioso pede desculpas, mas dimensão do pronunciamento capacistista foi muito maior

Um vídeo que viralizou nas redes sociais está gerando indignação e revolta entre o segmento da pessoa com deficiência. Na gravação, um pastor afirma categoricamente, durante uma pregação, que o autismo é uma “coisa do diabo”. O vídeo foi gravado num dos cultos de comemoração de 90 anos da Assembleia de Deus de Tucuruí, no estado do Pará, na noite da última sexta-feira (12), onde centenas de pessoas assistiam a celebração presencialmente, além da transmissão online para outros milhares de fiéis.

Durante sua pregação, o pastor carregado de ignorância e preconceito, disse: “De cada 100 criança que nasce (sic) nós temos um percentual gigantesco de pessoas e ventres manipulados, visitados pela escuridão que distorce, ainda no ventre, as crianças hoje, de cada 100 nós temos aí quase que 30% de autistas em vários graus. O que que está acontecendo pastor Washington? O diabo está visitando o ventre das desprotegidas, daqueles que não têm a graça, a habilidade, a instrumentalidade para saber lidar no mundo espiritual. E ele só procura os vulneráveis, os desassistidos”.

Para o jornalista Abrão Dib, presidente da ANAPcD – Associação Nacional de Apoio às Pessoas com Deficiência, “esse senhor e os organizadores do evento devem – no mínimo, uma retratação pública para tentar minimizar os efeitos dos absurdos anunciados por um cidadão que desconhece o que envolve o TEA – Transtorno do Espectro Autista. Ele, inclusive, não pode admitir desconhecimento sobre o tema, pois ocupa uma posição de destaque diante da sua comunidade, e esse tipo de agressão é um crime, e deve ser punido. Estamos analisando até mesmo como denunciá-lo as autoridades, diante da gravidade de sua mensagem”. A retratação que ele posteriormente fez não teve nenhuma dimensão, diante do que causou o vídeo que ele faz a agressão. “De nada adianta excluir o vídeo original, depois de postar as desculpas. O estrago já foi feito”.

Para Zé Barbosa Junior, articulista da Revista Fórum, “encontrei o perfil do tal religioso com a fala criminosa do pregador na noite desta terça-feira (16). Trata-se do pastor Washington Almeida, que se intitula “pastor itinerante e guardião do altar”, de Araguaína (TO), que conta com quase 100 mil seguidores seu canal no youtube, onde posta suas pregações. Curiosamente a pregação do dia 12 de julho não está mais no ar. É inadmissível que ainda haja quem defenda ideias como a do pastor Washington. O silêncio da plateia diante do absurdo é constrangedor. A fala, além de preconceituosa é criminosa, pois fere a Lei Nº 13.146/2015 que é a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)”.


O artigo 5º assegura que “a pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante.” No seu parágrafo único, diz que “para os fins da proteção mencionada no caput deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.” E ainda prevê a punição para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência” (Art. 88) A pena é a “reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa”.

Para o articulista, “é sabido de muitos o quanto uma pregação desse tipo gera opressão e discriminação nas pessoas que sofrem o autismo e em seus familiares. Quem conhece bem o ambiente de igrejas com esse tipo de mensagem sabe a repercussão e os desdobramentos que isso causa no dia a dia da própria igreja e dos fiéis, com comentários e opressões que visam desmerecer as pessoas que passam pelos problemas da vida real, muitas vezes apresentados, de forma leviana e errônea pelos pastores como “investidas diabólicas”.

Pedido de “desculpas” não tem abrangência nas redes sociais

Após a imensa revolta que o vídeo de sua pregação causou, o pastor Washington gravou um pedido de desculpas no início da madrugada desta quarta-feira (17). Em seu instagram, publicou: “Venho neste vídeo me retratar, devido a grande repercussão negativa de uma infeliz colocação minha, em um trecho de uma mensagem por mim pregada. Minhas sinceras desculpas, esta não foi a minha intenção JAMAIS, de me referir desta forma negativa em relação aos autistas.” No vídeo, diz que a fala foi no “calor da mensagem” e que “o ser humano é fadado ao erro”. Interessante perceber que ele vem se retratar “devido a grande repercussão negativa” da fala. A pergunta que não quer calar é: e se não houvesse essa repercussão? Qual seria a atitude do pastor?

Se há verdade no ditado que diz “o que foi dito bêbado, foi pensado sóbrio”, não haveria também uma verdade em se dizer que “o que foi dito ‘no calor da mensagem’, foi pensado no frio do coração”?  Aliás, como diz o próprio Jesus Cristo: “Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração.” (Mateus 12.34)

QUE NENHUMA CRIANÇA AUTISTA SEJA ALVO DE “INSANIDADE” RELIGIOSA

* Por Profa. Dra. Karla Daniele Luz

Circula na internet um senhor, em determinado contexto religioso, expondo uma narrativa que associa autismo a ação diabólica.
Para além da indignação que a narrativa gera, ela também nos provoca uma reflexão em dois aspectos fundamentais…
Primeiro…quem tem uma crença ou código de fé e acredita na sociedade inclusiva entende, no mínimo, que aprouve ao Criador permitir que a existência humana se apresente de múltiplas formas, maneiras e jeitos…Assim aprouve ao Criador que autistas também existissem e fosse o mais puro alvo de seu amor provado na cruz…
Falando em cruz o segundo aspecto dessa reflexão nos leva a um trecho muito conhecido do Sagrado Livro. Era uma manhã agitada, uma multidão em volta de Jesus, e entre eles famílias que traziam suas pequeninas crianças. O relato não registra, mas podemos imaginar a alegria delas, a euforia infantil, afinal queriam ver Jesus, queriam conhecer Aquele que estava revolucionando a vida e a sociedade, queriam chegar perto dAquele de quem seus pais mais falavam. Qual não foi a surpresa Jesus estava cercado por discípulos do mundo adulto, ocupados, estressados e não tardaram em afastar todas as crianças do valioso Mestre. Qual não foi a surpresa de todos os presentes, ao ver a cena o doce e carinhoso Cristo exclama:

  • Deixai vir a mim as crianças e não as impeçais, pois delas é o Reino dos Céus!
    Aqui o Mestre mudou tudo, absolutamente tudo. Além de trazer a infância para o centro do atos sociais; Ele trouxe para junto de si TODA, TODA criança. Aqui o Mestre NÃO disse: – Deixai vir a mim as crianças sem deficiência. NÃO! Ele disse: – Deixai vir a mim todas as crianças! Não poderemos saber ao certo, mas se pudermos conjecturar, possivelmente ali tinha crianças autistas, tinha crianças diversas…alvo do mais puro e perfeito amor que a humanidade já experimetou.
    Você pai, mãe, avós, famílias de crianças autistas saibam que nunca houve nem haverá associação dessas existências com o mal, pelo contrário, a condição autista compõe a diversidade humana e essa, sem dúvida, vem do próprio DEUS…
    QUE TODA CONDIÇÃO AUTISTA TENHA SUA ESPIRITUALIDADE RESPEITADA E PRESERVADA!

Profa. Dra. Karla Daniele Luz
Petrolina 18/07/2024

FONTE: https://revistaforum.com.br/

One thought on “Pastor afirma que diabo entra no ventre da mãe e causa autismo na criança. Depois, pede desculpas”
  1. Penso que mais do que preconceito desse pastor, seja sua notória ignorância, ou má-fé para pegar desinformados. Se as pessoas em geral estudassem o especialista Padre Quevedo, nada disso que esse charlatão falou as assustaria.

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