OPINIÃO
- * Por Dra. Catherine Moura
A leucemia mieloide crônica (LMC) é um tipo de câncer que se inicia na medula óssea, quando os glóbulos brancos (células de defesa) deixam de desempenhar sua função e passam a se desenvolver de forma descontrolada. Ainda não se sabe exatamente o porquê ela acontece, mas essa condição representa 15% de todas as leucemias em pacientes adultos com uma idade média de 67 anos[i], totalizando 11.540 diagnósticos por ano no Brasil.[ii]
A evolução no tratamento dessa neoplasia maligna é um marco na Medicina. Com os inibidores da tirosina quinase, a maior parte dos pacientes apresenta resultados clínicos muito positivos, possibilitando a remissão completa e vida plena, muito próximo à normalidade.
Segundo recente estudo feito pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE), 43% dos pacientes entrevistados que estão em 3ª linha de tratamento, quando a doença já progrediu duas vezes ou enfrentou efeitos colaterais severos nas terapias anteriores, só conseguem acesso à medicação por meio de ação judicial, uma via que onera o sistema de saúde.
Outros dados da associação mostram que 17% dos diagnosticados com LMC relataram problemas para ter acesso ao início do tratamento e outros 17% passam pelo mesmo desafio quando necessitaram trocar de terapia, momento em que mais da metade dos pacientes relatam não notar diminuição dos sintomas.
Em alguns casos, é possível que haja uma progressão, quando a LMC não responde mais às primeiras linhas terapêuticas ou apresenta efeitos adversos severos por conta destes medicamentos. E aí os impactos emocionais e os desafios de acesso ficam evidentes.
Já existem terapias alvo voltadas para a LMC refratária e recidivada, mas segundo levantamento da jornada dos pacientes com 40 participantes em 3ª linha de tratamento, a Abrale evidenciou que 25% passaram por diversas instituições até receber seu diagnóstico e 23% tiveram o diagnóstico inconclusivo. 60% deles utilizam plano de saúde e 25% dizem se sentir inseguros com as incertezas do futuro, relacionadas ao tratamento.
Por ser uma doença crônica, os pacientes frequentemente escutam comentários como “você tem o melhor tipo de câncer”. No entanto, subestimar o impacto contínuo, a possibilidade de evolução para quadros mais críticos e a necessidade de monitoramento constante da LMC, um câncer que traz consigo consequências emocionais agudas, não deve ser ignorado.
A Abrale tem mais de duas décadas de atuação em prol dos pacientes com cânceres e nossa missão é disponibilizar a cada um deles ajuda gratuita, como segunda opinião médica, apoio psicológico, jurídico e nutricional, informações e também acesso equitativo ao tratamento.
Independentemente do cenário que cada um está vivendo com a doença, toda vida é valiosa! Para os pacientes com LMC terem um futuro melhor, precisamos de acesso à todas as opções terapêuticas existentes em tempo oportuno, com um acompanhamento integral de seu estado de saúde. Só assim conseguiremos dar o suporte necessário para superarmos as necessidades ainda não atendidas dos pacientes e de seus médicos, seja no sistema público ou privado de saúde. Isso significa efetivamente promover a equidade em saúde e ampliação de acesso ao melhor cuidado existente.
* Dra. Catherine Moura é médica sanitarista e mestre em Saúde Pública – Saúde da Família. Atualmente, é CEO da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). É membro do Conselho Estratégico do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) e especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, Medicina Preventiva e Medicina do Trabalho. Executiva de cuidados em saúde com quase 20 anos de experiência no setor de saúde e proteção social apoiando a consolidação de políticas públicas e ações estratégicas de cuidados à saúde no país e na região da América Latina.
[i] https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/pcdt/arquivos/2022/portal-portaria-conjunta-pcdt-lmc-adulto__.pdf
[ii] Leucemia – As topografias referentes às leucemias são C90-95. Disponível em: < https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/leucemia >