OPINIÃO
- Por Jairo Varella Bianeck
A força da representatividade de uma associação transcende a mera formalidade organizacional. Ela se insere na própria essência do contrato social, onde indivíduos se reúnem para amplificar vozes que, isoladas, seriam sufocadas pelas engrenagens do poder e da inércia institucional. No caso das pessoas com deficiência (PcDs), essa força é ainda mais significativa, pois enfrenta um duplo desafio: o da invisibilização histórica e o da luta diária contra barreiras impostas por uma sociedade estruturalmente capacitista.
Representatividade: O Poder da Coletividade
Uma associação não é um nome em um CNPJ ou um logotipo estampado em documentos. Ela é, antes de tudo, um corpo coletivo pulsante, movido por indivíduos que compartilham experiências, dores e esperanças. Sua representatividade não se mede apenas pelo número de membros, mas pelo impacto que gera na formulação de políticas públicas, na defesa de direitos e na transformação do olhar social sobre a causa que representa.
O filósofo francês Pierre Bourdieu já apontava que o poder simbólico está no reconhecimento social. Assim, quando uma associação se torna um nome de peso na defesa de direitos, ela passa a ser uma instituição simbólica de resistência. O que se defende, portanto, não é apenas uma entidade jurídica, mas um patrimônio coletivo de luta e memória.
A Responsabilidade da Representação
Ser a voz de uma comunidade vulnerável exige responsabilidade e ética. A representatividade legítima nasce da confiança dos representados e da coerência entre discurso e prática. Quando alguém busca usurpar ou instrumentalizar essa representatividade para fins pessoais, políticos ou comerciais, comete um ato de violência simbólica contra aqueles que mais necessitam de uma organização forte e combativa.
Diante desse cenário, a quem interessa desmobilizar uma entidade atuante e legítima?
A Luta Não Pode Ser Monopolizada
Nenhuma organização detém o monopólio da luta das pessoas com deficiência. No entanto, a história e a coerência importam. Uma associação que se fez presente nas batalhas mais difíceis construiu um capital social que não pode ser apagado ou substituído por narrativas oportunistas. A coletividade deve se manter atenta para não permitir que jogos de poder enfraqueçam uma estrutura que custou anos de mobilização para ser consolidada.
A representatividade de uma associação é um pacto entre seus membros e sua missão. É um compromisso com a verdade, a justiça e a dignidade daqueles que representa. A tentativa de descredibilizar é um ataque à memória e à força de um movimento que luta por reconhecimento e inclusão.
O verdadeiro poder de uma associação reside na sua legitimidade perante aqueles que a compõem.
E essa legitimidade não pode ser concedida por decreto ou interesse pessoal—ela é conquistada no campo das batalhas diárias, onde apenas os verdadeiros comprometidos permanecem.
- * Jairo Bianeck é Advogado dedicado ao direito das Pessoas com Deficiência e Direito de Família.