• sex. jun 6th, 2025
Prove-me sua deficiência OPINIÃO - * Por Jairo Varella Bianeck

OPINIÃO

  • Por Jairo Varela Bianeck

Não há cadeira de rodas, cão-guia ou bengala que as anunciem.

Mas elas estão ali — moldando silêncios, exigindo estratégias de sobrevivência e travando batalhas cotidianas, não contra a limitação em si, mas contra o olhar apressado de uma sociedade que só reconhece o que salta aos olhos.

Duas mulheres surdas relataram, com humor e resignação, episódios em que lhes foi negado o simples direito à fila preferencial. Não por ausência de amparo legal — pois o art. 2º da Lei Brasileira de Inclusão é claro ao reconhecer deficiências físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais, ainda que invisíveis —, mas por preconceito travestido de desinformação.

Esses momentos, aparentemente banais, são cicatrizes de um sistema que exige prova visual da dor, ignorando que o sofrimento nem sempre grita, mas sussurra. E para isso, palavras também lutam. Palavras resistem. E palavras, às vezes, precisam rimar.

Prove-me sua deficiência

Prove-me sua deficiência!

Com licença? Que imprudência.

Julga o corpo pela aparência,

nega o direito com veemência.

Não tenho cadeira ou guia,

nem bengala como vigia.

Mas carrego a surdez que fia

meu silêncio em cada dia.

Não vê marca? Pois não se vê.

A dor também pode ser fé.

Minha luta não tem porquê —

só tem “quando”, “como” e “o quê”.

Você espera o sinal visível,

mas a ausência é indizível.

A prova, pra mim, é terrível,

porque a dor não é tangível.

Quer carimbo? Quer sentença?

Dou-lhe a alma por evidência.

Minha história é resistência,

e o direito, minha presença.

  • * Jairo Bianeck é Advogado dedicado ao direito das Pessoas com Deficiência e Direito de Família.

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