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  • sex. set 20th, 2024

OPINIÃO: Impacto do diagnóstico de crianças com deficiência na família

OPINIÃO: Impacto do diagnóstico de crianças com deficiência na família. * Por Renata F. Maransaldi
  • Por Renata F. Maransaldi

O impacto do diagnóstico do filho com deficiência na família é grande. Planos, expectativas, sonhos e idealizações são arrancados bruscamente dos pais e outros familiares (avós, tios e primos) dando espaço para as inseguranças, dúvidas, medos, cobranças, culpa e tantos outros sentimentos. Um estudo internacional de 2023 (link 1) corrobora inúmeras pesquisas anteriores de que a sobrecarga, na maioria das vezes, é materna. 

Sou psicóloga, mãe atípica e também me beneficio do acolhimento, pela ONG Friendship Circle.

É natural que os pais passem por uma instabilidade psicológica quando o processo do luto se instala: negação, isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. O filho que é idealizado morre e um novo mundo se abre. É preciso alterar a rota, os planos, os sonhos, a rotina e ficam as lembranças do que poderia ser. E, com este novo cenário, a saúde mental do cuidador certamente será afetada.

Um estudo brasileiro (link 2) também publicado neste ano, sobre as “Características sociodemográficas e sinais de depressão e ansiedade em mães/pais/cuidadores de autistas” foi constatada a presença de sintomas de depressão e ansiedade em 54,8% e 41,9%, respectivamente.

Uma das conclusões do referido estudo é que muitos pais comprometem sua qualidade de vida visando sempre o melhor para os filhos e este fator pode aumentar a chance de apresentarem sinais de ansiedade e depressão. Além disso, um dos motivos mais frequentes que levam mães/pais/cuidadores à presença de sintomas de ansiedade e depressão incluem a dificuldade de comunicação com a criança, por não conseguirem se expressar e compreender o universo do filho.

O sentimento dessas mães é de estar sempre em débito com algo, sentem-se excluídas e cobradas pela sociedade, por isso é importante ressaltar o papel do psicólogo, para acolher, orientar e ressignificar este momento tão delicado para esta família.

Na maioria das vezes, as mães abdicam de seus trabalhos e profissões pois os cuidados com a criança são prioridade em seu cotidiano. Ainda, a demanda na rotina é cansativa e difícil, e além do esforço físico há também um desgaste emocional. Sem recursos, a depressão e ansiedade também tendem a se manifestar. É preciso cuidado. Algumas instituições estão atentas aos impactos financeiros causados pela deficiência, tal como a Rede do Abraço, que também apoia o trabalho de familiares de pessoas com deficiência.

Outro estudo brasileiro avalia o “Estresse em Mães com Filhos Diagnosticados com Autismo”  Os níveis de estresse avaliados revelaram que 86% dessas mães apresentaram alguns sinais, sendo que destas, 42% encontram-se na fase de Resistência, 31% na fase de Exaustão e 13% na fase de Alerta, enquanto 11% das mães não se encontram em nenhuma fase, e 3% delas não apresentaram sintomas. [TERIA ALGO SEMELHANTE PRAS DEFICIÊNCIAS EM GERAL – sim, é o mesmo]

Segundo Selye (1965) o stress é constituído de três fases: alerta, resistência e exaustão. 

A primeira fase – alerta – acontece no momento em que a pessoa se depara com a fonte estressora, e nesse enfrentamento se desequilibra internamente, apresentando sensações e características, tais como: sudorese excessiva, taquicardia, respiração ofegante e picos de hipertensão. 

A segunda fase – resistência – caracteriza-se por uma tentativa de recuperação do organismo após o desequilíbrio sofrido na fase anterior. Nesse momento ocorre um gasto de energia que pode ocasionar cansaço excessivo, problemas de memória e dúvidas quanto a si próprio (Lipp & Malagris, 2001).

Caso o equilíbrio não seja adquirido por meio dessa mobilização, o processo pode evoluir para a terceira fase – exaustão, quando ressurgem sintomas ocorridos na fase inicial, no entanto com maior agravamento. É importante ressaltar que na fase de exaustão ocorre um grande comprometimento físico que se manifesta em forma de doenças (Lipp & Novaes, 1996).

Criar filhos com deficiência traz aos pais a sensação de que devem ser terapeutas 24 horas por dia, mas é muito importante que estes pais não se esqueçam de cuidar da própria saúde mental, mantendo uma rede de apoio que permita a manutenção de suas relações sociais, profissionais e familiares.

  • Renata F. Maransaldi – CRP: 06/78140 é Psicóloga Clínica, Especialista em Terapias Cognitivas e Dependências Comportamentais. – @psi_renatamaran/

Link (1)

https://www.ijirss.com/index.php/ijirss/article/download/1062/310

Link (2)

https://periodicos2.unemat.br/index.php/jhnpeps/article/view/10845/7603

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