Dia Internacional das Pessoas com Deficiência – Pátria, Democracia e Inclusão!

OPINIÃO

  • * Por André Naves

Chegou o dia 3 de dezembro, e com ele uma profusão de histórias emocionais de superação, além dos sempre penalizantes dramas… A Pessoa com deficiência parece ser um paradoxal super-herói inspirador de pena. A propaganda ainda insiste em ligar a deficiência à pessoa, escondendo, convenientemente, que é a precariedade das políticas públicas inclusivas que mantém intactas as estruturas sociais excludentes que se materializam nas mais diversas barreiras do dia a dia…

Ou seja, o discurso predominante insiste em esconder que a deficiência é elacionada à organização da sociedade, e nunca ao indivíduo, possuidor de características únicas que, em interação com as estruturas sociais, podem, ou não, ensejar impedimentos. Vamos resumir? A deficiência nunca é ligada ao indivíduo, mas sim à sociedade em que ele está inserido.

O Estado brasileiro, instituído pela Constituição Democrática de 1988, tem por estrutura fundamental a Democracia. Isso significa que fora da Democracia perde-se a própria noção de Brasil. Traduzindo: não existe o Brasil sem a Democracia. Ou seja, no tecido social brasileiro, entrelaçado pela Constituição Democrática de 1988, a essência da nação encontra-se inseparável da democracia.

Mas vale perguntar: o que é Democracia? Ela é a vontade da maioria, sempre respeitando a dignidade das minorias, materializada em políticas públicas que concretizem e promovam os Direitos Humanos. Vale dizer que a Democracia, nesse contexto, é a expressão da vontade da maioria, mas mais do que isso, é o compromisso inabalável de respeitar a dignidade das minorias. Este compromisso se materializa através de políticas públicas que não apenas proclamam, mas promovem os Direitos Humanos.

Mas chegando aqui, também perguntamos: o que são os Direitos Humanos?

Eles transcendem a mera existência física e abrangem pilares essenciais da vida humana: Vida, Liberdade, Igualdade, Segurança e Propriedade. A vida, entendida não apenas como sobrevivência, mas como plena emancipação, acesso a oportunidades e desenvolvimento individual. A liberdade, não apenas como ausência de restrições, mas como a capacidade de buscar o desenvolvimento pessoal em conformidade com as características individuais. Em outras palavras: só é livre quem pode ser o que se é, e se
portar de acordo.

A igualdade, crucial em uma sociedade democrática, demanda acesso equânime às oportunidades de emancipação individual. A segurança, para além da proteção contra ameaças à vida e liberdade, abrange também a garantia de necessidades básicas para a emancipação (segurança alimentar, segurança sanitária, entre outras, por exemplo). A propriedade, englobando tudo que é próprio à individualidade, destaca-se como elemento fundamental, incluindo bens, ideias, concepções e, notavelmente, o trabalho.

A concretização desses direitos de maneira democrática é fundamental para a completude de cada indivíduo. A capacidade de desenvolver plenamente as capacidades intrínsecas de cada pessoa e a liberdade, segundo os interesses de cada pessoa, de lutar por políticas públicas inclusivas, eficientes e justas são elementos fundamentais para uma sociedade verdadeiramente democrática. Sempre que excluímos quaisquer individualidades, estamos concretizando políticas públicas de pior qualidade e atuando de maneira anti-democrática, portanto.

Um pequeno exemplo que posso dar é o meu: sofri, há mais de 20 anos, um gravíssimo acidente automobilístico que me rendeu meses de coma, um longo tempo sem andar, e terapias e tratamentos que me acompanham desde então. Eu sou um daqueles privilegiados para quem o destino sorriu: consegui acesso, com muita luta e dedicação, é verdade, a tratamentos fundamentais à minha emancipação pessoal.

Ainda enfrento as barreiras diárias dos preconceitos, do capacitismo, da invisibilidade e da falta de adequação arquitetônica e urbanística, mas, mesmo assim, tenho a grata possibilidade de poder contribuir cotidianamente, da melhor forma possível, para a materialização de políticas públicas inclusivas e justas.

Neste Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, é imperativo refletir sobre a interseção entre inclusão e democracia. A inclusão emerge como o cerne da democracia, e lutar por estruturas sociais inclusivas e justas não é apenas um dever democrático, mas também um ato patriótico. Somente em ambientes inclusivos e plurais pode florescer a criatividade, a mãe das inovações, conduzindo-nos em direção às novas fronteiras de desenvolvimento econômico e social.

  • * ANDRÉ NAVES é Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Economia Política. Defensor Público Federal. Escritor e Professor. Apresentador do quadro “Vozes pela Inclusão” no Diário PcD – todas às 20h nas terças-feiras no canal no YouTube
  • É colunista do “Esh Tá na Mídia”, além de diversos outros órgãos de comunicação. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência Intelectual, além de diversas instituições voltadas à Inclusão Social.

  • Autor do livro “Caminho – A Beleza é Enxergar”.
  • www.andrenaves.com
  • Instagram: @andrenaves.def

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