Mudança de rotina afeta crianças com TDAH e autismo; especialistas dão dicas de recreação para pais e filhos
Julho é, para muitos, sinônimo de descanso e lazer. Entretanto, as férias escolares podem ser desafiadoras para crianças neurodivergentes.
A neurodiversidade se refere às variações no cérebro humano em relação à sociabilidade, aprendizagem, humor e outras funções cognitivas. Alguns exemplos são o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro Autista (TEA) e dislexia.
No Brasil, a população neurodivergente – somada a pessoas com deficiência – totaliza 18,9 milhões. Entre 2022 e 2023, o número de crianças e adolescentes com autismo matriculados aumentou 50%: de 405.056 para 607.144, segundo dados do Censo de Educação Básica. Todavia, alunos neurodivergentes tendem a sentir níveis intensos de ansiedade e solidão durante o recesso escolar, devido à mudança repentina de rotina.
De acordo com Amanda Alves, psicopedagoga do Grupo Treini, especializado em tecnologia assistiva, o estresse ocorre porque crianças neurodivergentes dependem de uma rotina previsível para se sentirem seguras. “Seguir uma rotina oferece sensação de ordem, ajudando-as a gerenciarem melhor as expectativas. A mudança é muito desafiadora, pois perdem a previsibilidade que já estão habituadas”.
A especialista explica como prepará-las para o período de férias: “É válido montar um roteiro para o dia seguinte, com imagens de lugares que ela vai visitar, por exemplo. Lembrando que as novidades devem ser apresentadas gradualmente, para não sobrecarregá-la. Também é importante manter atividades escolares, para que ela tenha algo familiar nesse tempo em casa”.
Alessandro Tomazelli, CEO da empresa de recreação Cia do Tomate, reforça que as atividades devem ser inseridas de forma natural no cotidiano, sem parecer uma tarefa: “A realização de brincadeiras e atividades físicas não pode vir como uma obrigação. É necessário que venham como um momento de relaxamento e conectividade, para que possam expandir habilidades cognitivas, sociais e criativas”.
Para auxiliar os pais no período ocioso, a psicopedagoga Amanda Alves destaca cinco atividades para estimular o desenvolvimento de crianças neurodivergentes em casa. Lembrando que as necessidades e desafios podem variar dependendo do diagnóstico e características pessoais. Confira:
1 – Artes: atividades como pintura, modelagem e artesanato ajudam na criatividade e expressão não verbal de emoções, visando também um produto final.
2 – Música: movimentações com o corpo, por meio da dança e teatro, auxiliam na coordenação, expressão emocional e trabalho em equipe, no caso de atividades em grupo.
3 – Esportes: práticas como natação, judô e balé também ajudam a desenvolver habilidades motoras e de coordenação.
4 – Atividades ao ar livre: brincadeiras como caça ao tesouro estimulam habilidades cognitivas para procurar itens no quintal de casa ou em uma praça, por exemplo.
5 – Jogos de tabuleiro: jogos como damas e ludo ajudam a desenvolver paciência, pensamento estratégico, tomada de decisão e habilidade de lidar com a perda.
“É importante considerar as preferências de cada criança, assim como os desafios sensoriais e níveis de habilidade. Se for necessário, fazer adaptações para que a atividade possa atender as necessidades específicas e, consequentemente, aumentar a participação nessas experiências”, reforça a especialista.