Documentário estreia dia 19/09 e retrata a sexualidade de pessoas com deficiência
“Com certeza já tiveram algumas pessoas que ficaram comigo por curiosidade, por quererem experimentar algo diferente”. Essa é a frase de Giovanni, personagem que abre o documentário “Assexybilidade”, que chega aos cinemas brasileiros no dia 19 de setembro. Dirigido por Daniel Gonçalves (Meu Nome é Daniel), o filme apresenta histórias sobre a sexualidade de pessoas com deficiência e a diversidade de experiências pelo olhar de quem tem alguma condição física ou intelectual. O diretor, roteirista e produtor também busca dar luz ao tabu sexo e revela a luta diária de pessoas com deficiência contra o capacitismo e a ideia preconceituosa de que não sentem desejo como todos os outros. “Assexybilidade” é produzido pela TvZero e SeuFilme em coprodução com Globo Filmes, GloboNews e Globoplay. Coprodução e codistribuição da Prefeitura do Rio, por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria Municipal de Cultura e Apoio à distribuição da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo. O filme tem distribuição da Olhar Filmes.
“A produção do documentário passa muito pela minha própria experiência. Eu também já passei por situações de me envolver com pessoas que tinham curiosidade de ficar com alguém com deficiência, e já levei muitos foras por conta da minha condição. Entretanto, o sexo para pessoas com deficiência não é inexistente, muito pelo contrário, nós também transamos, também temos desejo e isso não pode ficar escondido. Por isso o documentário é tão importante para levantar o debate e ainda mostrar que somos como qualquer outra pessoa”, afirma Daniel Gonçalves.
Ao longo de quase uma hora e meia de duração, o filme apresenta 15 personagens que contam histórias pelas quais já passaram envolvendo sexualidade. As narrativas incluem casos extremos de capacitismo, preconceito, curiosidade de pessoas próximas, autoconhecimento e choque de realidade no próprio núcleo familiar, como é o caso trazido por Ivone. Na sua fala, ela conta que foi ao ginecologista, pela primeira vez, aos quase 40 anos, mesmo momento em que sua mãe descobriu que ela não era mais virgem.
O documentário conta também a história de Lelê, que reforça o preconceito por ser deficiente e negra. “Eu sou uma mulher preta, deficiente, gorda, moradora de favela. O capacitismo para mim chega de forma diferente, fazendo com que eu seja cada vez mais desumanizada. Já tive a minha muleta confundida com um fuzil por um policial. Em outro momento fui abordada por uma pessoa na rua, estava de roupa curta e, depois de conversar comigo, ele viu a minha prótese e começou a fazer um escândalo, dizendo que não ficaria comigo porque sou desse jeito”, explica Lelê.
“Assexybilidade” tem uma proposta inclusiva, não só na temática, como também no processo de realização que contou com algumas pessoas com deficiência em sua equipe, a começar pelo diretor, que tem uma deficiência de origem desconhecida que afeta sua coordenação motora. Em seu primeiro documentário, “Meu Nome é Daniel”, Gonçalves, através de vasto material em arquivo em VHS e de cenas gravadas nos dias de hoje, revê sua trajetória e busca compreender sua condição.
A première mundial do filme foi em julho de 2023, no OutFest Los Angeles. A primeira exibição brasileira foi no Festival do Rio, onde ganhou o Prêmio de Melhor Direção de Documentário e uma menção honrosa do Prêmio Félix. Recebeu ainda os prêmios de Melhor Direção de Longa-Metragem, no Festival For Rainbow, em Fortaleza; e o Grande Prêmio do Júri – Melhor Longa-Metragem Documentário, no NewFest, em Nova York.
O filme também foi exibido no Mix Brasil, Oslo Fusion (Noruega), Pink Screens (Bélgica), Gender Bender (Itália), Roze Filmdagen (Holanda), Excéntrico Festival (Chile), Ljubiliana LGBT Film Festival (Eslovênia), Queertactis Vienna (Áustria), Des Images Aux Mots (França), Écrans Mixtes (França), FIFDH Geneva (Suíça), Patois New Orleans International Film Festival (EUA), San Diego Latino Film Festival (EUA) Panorama Internacional Coisa de Cinema (Brasil), Cleveland International Film Festival (EUA) e Zinentiendo (Espanha).
“Assexybilidade” foi desdobrado em uma exposição fotográfica. Em maio de 2024 a mostra foi inaugurada no Rio de Janeiro como resultado de um desejo do diretor de usar o material que foi produzido durante as filmagens, mas que não entraram no corte final. Além de 35 imagens de personagens inéditos, a exposição também contou com um vídeo com cortes das entrevistas.
Sinopse
Assexybilidade conta histórias sobre a sexualidade de pessoas com deficiência. O filme fala sobre flerte, beijo na boca, namoro, masturbação, capacitismo e, é claro, sexo. A maior força do documentário é precisamente ouvir das pessoas com deficiência coisas que a sociedade não espera que elas digam e façam. Queremos mudar a ideia de que são seres assexuados, angelicais, especiais e, até mesmo, desprovidos de desejos. Nós fodemos e fodemos bem, dizem por aí.
Ficha técnica
Direção: Daniel Gonçalves
Produção: Daniel Gonçalves e Roberto Berliner
Roteiro: Daniel Gonçalves e Vinicius Nascimento
Produção Executiva: Leo Ribeiro, Sabrina Garcia e Ricardo Valle
Direção de fotografia: Andrea Capella e Fabrício Mota
Fotografia Still e Making of: Gabriela Bagrichesky
Montagem: Vinicius Nascimento e Ananda Correia
Consultoria de montagem: Eduardo Valente
Coordenação de produção executiva: Fernanda Calábria
Direção de produção: Bem Medeiros e Tatiana Groff
Pesquisa de personagens: Nathalia Santos
Som direto: Pedro Moraes, Rafael Bordalo e PC Azevedo
Edição de som e mixagem: Bernardo Uzeda
Trilha sonora original: Pedro Mibielli e Jonas Sá
Correção de cor: Hebert Marmo e Anuar Marmo
Coordenação de pós-produção: Nat Mizher
Produção: TvZero e SeuFilme
Coprodução: Globo Filmes, GloboNews, Globoplay e Prefeitura do Rio, por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria Municipal de Cultura
Investimento: BRDE, Fundo Setorial do Audiovisual e ANCINE
Apoio à Distribuição: Lei Paulo Gustavo / SECEC
Distribuição: Olhar
Sales Agent: The Open Reel
Sobre o diretor
Daniel Gonçalves é formado em jornalismo pela PUC-Rio e pós-graduado em Cinema Documentário pela Fundação Getúlio Vargas. Tem uma deficiência de origem desconhecida que afeta sua coordenação motora. Trabalhou na TV Globo e hoje é sócio da produtora SeuFilme. Dirigiu os curtas-metragens Tem Bala Aí? (2008); Luz Guia (2012); Como Seria? (2014); e Pela Estrada Afora (2015). Meu Nome é Daniel, seu primeiro longa-metragem, foi exibido em mais de 20 festivais, como IDFA, Festival do Rio, Mostra de São Paulo, Festival de Sydney, Festival de Cartagena e Mostra de Tiradentes.
Foi consultor do curta-metragem A Diferença Entre Mongóis e Mongoloides, dirigido por Jonatas Rubert e premiado no Festival de Gramado de 2021. É consultor e coprodutor de Uma em Mil, longa de estreia de Jonatas e de seu irmão Tiago Puntel Rubert que realizou suas gravações em abril de 2023.
Assexybilidade, segundo longa de Daniel, teve sua Première Mundial no Outfest Los Angeles 2023 e ganhou o prêmio de melhor direção de documentário no Festival do Rio 2023. O filme estreia em circuito no dia 19 de setembro de 2024.