*Por Mariana Macedo de Melo

Você já imaginou como seria viver em um mundo onde sua voz não encontra espaço, mas seus pensamentos são mais eloquentes do que qualquer palavra que possa ser pronunciada? É exatamente isso que “Out of My Mind” ou “Fora de Mim”, lançado em novembro, nos convida a explorar. Inspirado no best-seller de Sharon M. Draper, o filme não é apenas uma narrativa emocionante, mas um poderoso chamado para refletirmos sobre inclusão, empatia e o que realmente significa enxergar além das aparências físicas.

Estrelado por Phoebe-Rae Taylor, uma jovem atriz que, assim como sua personagem Melody Brooks, com 11 anos, vive com paralisia cerebral, o longa entrega uma autenticidade rara. A história conta como uma aluna não-verbal em uma cadeira de rodas, enfrenta os desafios da inclusão dentro de um uma instituição de ensino. O filme está ambientado em 2002, justamente o ano em que eu comecei meu aprendizado em uma escola regular, trajetória contada na minha autobiografia “Alma de Borboleta: um voo de transformação, liberdade e resiliência com a paralisia cerebral”.

Melody e eu encontramos em nossas jornadas professores que duvidavam de nossas capacidades, mas também aqueles que enxergavam além das limitações, reconhecendo nosso verdadeiro potencial. Esses educadores exemplares desempenharam papéis fundamentais, oferecendo não apenas suporte acadêmico, mas também emocional, e nos incentivando a perseguir nossos planos. No entanto, as amizades apresentavam uma dinâmica complexa: era necessário discernir entre aqueles que se aproximavam por afeição genuína e aqueles movidos por interesse. Você já refletiu sobre como seria perceber que alguém se aproxima de você não por quem você é, mas para tirar proveito dos poucos benefícios que a sociedade oferece às pessoas com deficiência? Além disso, muitas vezes, enfrentamos também a segregação velada, sendo deixados de fora de atividades comuns entre os amigos, um lembrete doloroso de como a exclusão social pode reforçar barreiras já existentes. 

No filme, a protagonista Melody, que não consegue falar, tem como maior desejo poder se expressar verbalmente, um anseio que, em partes, se conecta com minhas próprias perspectivas profissionais. Diferente dela, eu falo, mas no telejornalismo meu sonho é alcançar maior fluência e clareza na comunicação, aprimorando os sons que habitualmente produzo para transmitir mensagens de forma mais eficaz e impactante. No enredo, ela utiliza tecnologias que transformam seus pensamentos em palavras audíveis, convertendo a digitação textual em uma voz que dá vida às suas ideias.

Nas cenas finais do filme, Melody declara: “Não importa qual é a minha voz, o que importa é o que eu tenho a dizer.” Essas palavras reverberam em minha jornada, refletindo o que minha fonoaudióloga Flávia e minha professora Carina sempre me ensinaram que  o conteúdo do que tenho a dizer é mais importante do que como eu falo. 

A arte imita a vida e, por sua vez, a vida se transforma através da arte. Obras como o filme “Fora de Mim” e o livro “Alma de Borboleta” vão além do entretenimento: elas tecem narrativas autênticas de realidades muitas vezes invisíveis. Essas histórias nos convidam a enxergar as diferenças como forças que enriquecem o tecido social. Ao fazer isso, elas não apenas ecoam experiências de vida, mas também inspiram mudanças no mundo real, promovendo uma sociedade mais consciente, empática e acolhedora, onde a diversidade é vista como arte em movimento.

* Mariana Macedo de Melo é jornalista, com paralisia cerebral. É apresentadora do canal @conexaoinclusiva.videocast, influenciadora no @marianamacedojornalista e   autora do livro “Alma de Borboleta: um voo de transformação, liberdade e resiliência com a paralisia cerebral”, publicado neste ano pela editora In House, podendo ser comprado direto com ela em suas redes sociais.