Pessoas com deficiência enfrentam barreiras que exigem das empresas investimentos em cultura de inclusão e diversidade
No debate que encontra um ambiente propício pela celebração do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, a recolocação no mercado de trabalho é um tema crucial por representar uma barreira para os profissionais PCDs.
“A contratação de pessoas com deficiência ainda se baseia muito no cumprimento da Lei de Cotas pelas organizações”, afirma Maria Emilia Leme, especialista em recolocação profissional. Para que oportunidades sejam ampliadas e talentos valorizados, segundo a especialista, é preciso que ocorra uma transformação na cultura organizacional com a efetiva valorização da inclusão e da diversidade.
De acordo com o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 14,4 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 7,3% da população com dois anos de idade ou mais. Em levantamento divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com base em informações no eSocial, no início deste ano havia 618 mil PCDs trabalhando com carteira assinada. Do total, 93% preenchiam vagas determinadas pela chamada Lei de Cotas (Lei nº 8.213/1991), que define percentuais de contratações de pessoas com deficiência de acordo com o número de funcionários em empresas a partir de 100 empregados.
Embora a Lei de Cotas tenha o propósito de diminuir a desvantagem social enfrentada por pessoas com deficiência, Maria Emilia Leme destaca que a participação de PCDs no mercado é muito inferior, se comparada com profissionais que não têm deficiência. De acordo com o IBGE, 60,7% da população encontra espaço no mercado de trabalho; as pessoas com deficiência representam somente 26,6%. Cerca de 55% dos profissionais PCDs trabalham em situação de informalidade.
O nível educacional é outro ponto de discrepância apontado por Maria Emilia. “A escolaridade acaba sendo uma barreira para os PCDs, por limitar oportunidades”, ressalta. A percepção da especialista é corroborada por um levantamento da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022. Enquanto 20,9% das pessoas sem deficiência concluíram o Ensino Superior, apenas 7% dos PCDs terminaram a faculdade.
Na questão salarial, o PNAD indica que profissionais PCDs chegam a ganhar 30% menos que as pessoas sem deficiência. Esta informação se conecta com dados apresentados pela pesquisa “Radar da Inclusão: Mapeando a empregabilidade de pessoas com deficiência”, realizada pela Talento Incluir. Segundo o levantamento, 84% das pessoas com deficiência não ocupam cargos de liderança nas empresas. A pesquisa revela ainda que mesmo empregados por mais de três anos, 63% dos PCDs nunca receberam uma promoção.
Mesmo com um posicionamento mais efetivo dos profissionais PCDs sobre suas formações e competências em plataformas como LinkedIn, Maria Emilia Leme observa que as empresas precisam solucionar diversas barreiras para a plena atuação das pessoas com deficiência. “É preciso ir além da Lei das Cotas e transpor preconceitos, com investimentos em uma cultura organizacional que contemple realmente a inclusão e o respeito às singularidades desses profissionais que têm muito a contribuir com as organizações, incluindo aqui o fortalecimento da marca empregadora”.