OPINIÃO
- * Por Carina Alves
O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro, é mais do que uma data simbólica. Ele nos convoca a encarar uma verdade incontornável: sociedades inclusivas não se constroem apenas com boas intenções, mas com decisões concretas, políticas consistentes e a coragem de enfrentar desigualdades que persistem há décadas.
Trabalhando diariamente com acessibilidade e direitos humanos, vejo de perto o quanto ainda naturalizamos barreiras que poderiam e deveriam ser superadas. A ausência de rampas e sinalizações adequadas, a falta de recursos pedagógicos acessíveis, a pouca representatividade na mídia e no mercado de trabalho e o capacitismo que atravessa gestos cotidianos revelam que a exclusão não é um acidente: é resultado de escolhas.
Por isso, inclusão não pode ser reduzida a um discurso inspirador. É responsabilidade compartilhada entre governos, empresas, escolas, comunidades e indivíduos. Quando ignoramos essa corresponsabilidade, o que perdemos não é apenas o potencial das pessoas com deficiência. Perdemos como sociedade. Perdemos inovação, diversidade de pensamento, riqueza cultural e ética pública.
Acessibilidade é tecnologia social, é política pública, é cultura e, sobretudo, é reconhecimento. Reconhecer que todas as pessoas têm direito pleno à participação social. Reconhecer que autonomia não se dá por concessão, mas por garantia. E, claro, reconhecer que romper com as barreiras é investir em um futuro mais justo, sustentável e inteligente.
No Instituto Incluir, onde atuo há mais de duas décadas, aprendemos que inclusão é processo, prática cotidiana e construção coletiva. Projetos como a Literatura Acessível mostram que o acesso ao conhecimento transforma vidas e cria novas possibilidades de pertencimento. Assim como minha atuação internacional, como avaliadora de acessibilidade pelo Zero Project e em iniciativas da UNESCO e de governos estrangeiros, reafirma que o Brasil tem muito a contribuir, mas também muito a avançar.
Neste 3 de dezembro, o que proponho é simples e urgente: que deixemos de tratar inclusão como exceção. Que ela seja regra, critério e compromisso. Que cada instituição reflita sobre suas atitudes, que cada gestor revise suas prioridades e que cada cidadão compreenda que acessibilidade não é favor, é direito.
Construir um país verdadeiramente inclusivo é possível. E começa quando escolhemos, todos os dias, derrubar barreiras em vez de justificá-las.

Carina Alves é Psicóloga, Doutora em Educação, Empreendedora Social e Fundadora-Presidente do Instituto Incluir. Ativista pelos direitos humanos, idealizou o projeto Literatura Acessível e atua como avaliadora de acessibilidade pelo Zero Project (ONU). Foi a primeira brasileira premiada pela UNESCO Paris e pelo Governo da China com o Prêmio Confúcio (2022) e recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga (2024).




