Resultados reforçam a importância de monitorar sintomas e do bem-estar do paciente durante o tratamento
O câncer de rim é considerado uma doença silenciosa, visto que seus sintomas geralmente se manifestam apenas em estágios avançados – quando já pode ter ocorrido metástase para os pulmões (mais frequentes), ossos (35% a 40%) ou fígado. O carcinoma de células renais (CCR) é o tipo mais comum de câncer de rim e, segundo dados do Ministério da Saúde, há uma incidência de mais de 10 mil novos casos a cada ano no Brasil. Nesse cenário, tratamentos que não apenas prolongam a vida, mas também mantêm a qualidade de vida, são de extrema importância para os pacientes, especialmente os metastásticos. Nesse contexto, um estudo clínico internacional de fase III, o CheckMate 9ER, conduzido com pacientes com CCR avançado ou metastático previamente não tratado, demonstrou que a terapia combinada de cabozantinibe e nivolumabe mais do que dobrou a sobrevida livre de progressão para 16,4 meses, em comparação com os 8,3 meses do tratamento padrão.
Uma análise complementar do estudo CheckMate 9ER – que visava compreender a relação entre qualidade de vida e desfechos clínicos – também revelou que sintomas como dor óssea e distúrbios do sono, quando surgem logo no início do tratamento, impactam negativamente a qualidade de vida dos pacientes. Esses achados reforçam a importância de monitorar precocemente os sintomas e considerar o bem-estar global do paciente como parte essencial do manejo clínico.
Para Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, os dados deste estudo complementar chamam atenção para a necessidade de olhar além da eficácia dos medicamentos. “O câncer renal muitas vezes chega sem avisar. Quando os sintomas aparecem, já afetam profundamente a vida do paciente. Esse estudo mostra que precisamos garantir que os cuidados não se restrinjam ao tumor, mas contemplem também o bem-estar físico e emocional do paciente em todas as fases”, avalia.
Nesse contexto, uma pesquisa qualitativa realizada pelo Oncoguia, lançada este ano, ouviu pacientes com câncer de rim avançado de diferentes regiões do Brasil, todos em tratamento na saúde suplementar. Estruturado em quatro blocos – diagnóstico, início do tratamento, tratamento contínuo e vivendo com a doença – o estudo buscou compreender a experiência, os sentimentos e os aprendizados desses pacientes. “Um dos principais achados foi que a falta de informação sobre o câncer de rim é quase total entre os pacientes, mesmo após o diagnóstico. Esse desconhecimento atrasa suspeitas, dificulta decisões e aumenta o medo, com reflexos diretos na qualidade de vida. Já aqueles que se sentem acolhidos, bem informados e confiantes tendem a aderir melhor ao tratamento”, aponta o levantamento.
A pesquisa também mostrou que o papel do médico é essencial e vai além do atendimento em consultório. “Na maioria dos relatos, a decisão médica foi quase sempre unilateral, reforçando a importância da escuta ativa por parte dos profissionais, principalmente em casos mais graves. Os pacientes precisam não apenas de explicações claras sobre as possibilidades disponíveis de tratamento, mas também de acolhimento, diálogo e presença. Assim, melhoramos a experiência do paciente e conseguimos promover modelos de cuidado humanizado, que considerem o corpo, mente, cotidianos e burocracias envolvidas em cada etapa”, destaca a presidente do Instituto Oncoguia.
Na avaliação de Luciana, todos esses achados oferecem novas possibilidades para a personalização do cuidado. “A identificação dos diferentes perfis de sintomas ajuda médicos e pacientes a tomar decisões mais assertivas. Quando reconhecemos precocemente os sinais que afetam a qualidade de vida, conseguimos agir de forma mais rápida e efetiva. É uma forma de darmos voz aos pacientes, parte essencial desse processo”, explica.
Diagnóstico precoce do CCR ainda é um desafio
O carcinoma de células renais tem incidência duas vezes maior em homens do que em mulheres e pico entre 60 e 70 anos.1 De acordo com Fábio Schutz, oncologista clínico e coordenador médico do serviço de oncologia clínica do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, o desenvolvimento do CCR costuma estar associado a uma combinação de fatores de risco. “Entre os principais fatores de risco para o câncer de rim estão o diabetes, a obesidade, a hipertensão, o tabagismo e as doenças renais crônicas ou inflamações renais persistentes”, explica.
O especialista destaca ainda que, por ser uma doença silenciosa, ela muitas vezes é descoberta de forma incidental, durante exames solicitados por outros motivos. Quando surgem, os sintomas mais comuns incluem dor lombar persistente, sangue na urina, perda de peso não intencional e fadiga. Em fases mais avançadas, podem aparecer dores ósseas e dificuldade para respirar. Na maioria dos casos, quando os sinais clínicos se manifestam, a doença já está em estágio avançado, incluindo possível metástase. “Infelizmente, ainda não existe protocolo específico de rastreamento para o câncer renal, o que torna a detecção precoce um desafio”, completa Luciana.
O tratamento depende da progressão da doença. “Quando o tumor está restrito ao rim, a cirurgia é a principal abordagem, com a retirada parcial do órgão sempre que possível. Em situações específicas, técnicas menos invasivas, como ablação por radiofrequência ou crioterapia, também podem ser utilizadas. Nos casos metastáticos, terapias sistêmicas, incluindo medicamentos orais anti-angiogênicos e as imunoterapias com inibidores de checkpoints imunológicos têm papel essencial. Além disso, o acompanhamento multidisciplinar, envolvendo oncologistas, urologistas, radioterapeutas, enfermeiros e outros profissionais, é fundamental para oferecer tratamento coordenado e suporte integral ao paciente”, conclui Schutz.






