OPINIÃO
- * Por André Naves
A ciência brasileira, quando floresce, não produz apenas dados e artigos acadêmicos. Ela produz esperança. Ela nos mostra, de forma prática e assombrosa, o futuro que podemos construir se tivermos a coragem de investir no que realmente importa: a inteligência e a capacidade de nosso povo a serviço da dignidade humana.
A prova mais recente e avassaladora desse potencial vem de uma pesquisa revolucionária. A aplicação do Protocolo de Neuroreabilitação desenvolvido no Brasil pela equipe do Projeto Andar de Novo, sob a liderança visionária do neurocientista Miguel Nicolelis, alcançou resultados que até pouco tempo eram considerados impossíveis.
Em um estudo conduzido em Pequim, pacientes paraplégicos crônicos, cujas esperanças haviam sido tolhidas por lesões medulares, não apenas recuperaram parte dos movimentos das pernas e voltaram a andar de forma autônoma, mas também apresentaram sinais de reversão da atrofia cerebral causada pela lesão.
Essa tecnologia, que combina interfaces cérebro-máquina não invasivas, realidade virtual e locomoção robótica, é mais do que uma proeza. É um manifesto de que a ciência, financiada com recursos públicos, pode devolver não apenas movimento, mas a própria integridade neurológica e a plena participação na vida.
Diante de resultados tão extraordinários, a pergunta se torna incontornável: por que uma inovação desta magnitude, criada por um brasileiro e sua equipe, ainda não é uma realidade acessível em nosso próprio país? A resposta é clara e reside fora do laboratório. O caminho que leva uma descoberta da bancada de pesquisa para a vida de milhões de pessoas não é pavimentado apenas por genialidade científica. Ele é construído sobre uma base de decisão política. Todo e qualquer investimento público é, em sua raiz, uma escolha que reflete as prioridades de uma sociedade. E a quem devem servir nossas prioridades?
Tornar o protocolo do Projeto Andar de Novo acessível a todos os brasileiros que dele necessitam, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), é o passo lógico e urgente para uma nação que se pretende justa e desenvolvida. O SUS é uma das maiores conquistas civilizatórias do Brasil, e fortalecê-lo com tecnologia de ponta, escalando o uso de terapias e equipamentos inovadores, é o nosso dever ético e estratégico.
Essa decisão, contudo, não nascerá espontaneamente nos gabinetes. Ela será fruto da nossa capacidade de mobilização. A história nos ensina que as grandes transformações sociais só ocorrem quando a demanda popular se torna tão clara e audível que ignorá-la se torna politicamente insustentável. Se queremos que o Estado brasileiro invista massivamente em ciência, em pesquisa e na aplicação de suas descobertas para o bem comum, precisamos nos fazer ouvir.
Convido a todos que se sentem tocados por essa visão a conhecerem os detalhes desta pesquisa revolucionária e a se aprofundarem no trabalho do Dr. Miguel Nicolelis. A trajetória dele é uma fonte de inspiração e um argumento irrefutável sobre a importância do investimento em ciência.
É hora de transformar admiração em ação. É hora de cobrar nossos representantes, de apoiar nossas universidades, de defender nosso sistema de saúde e de lutar para que a ciência brasileira tenha os recursos e o prestígio que merece.
A ciência já nos mostrou o caminho para andar de novo. Mas, como sociedade, só daremos o próximo passo quando nos movermos juntos.
É hora de arregaçarmos as mangas!

- * André Naves é Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política – PUC/SP. Cientista Político – Hillsdale College. Doutor em Economia – Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.
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Link para o estudo: https://doi.org/10.64898/2025.11.28.25340891
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