OPINIÃO

• Por Felipe Mukai

Muita gente convive com alguma dor constante, seja nas costas, no pescoço ou nas articulações, sem saber que isso já é considerado “dor crônica” pelos médicos. Estima-se que esse problema afete de 20% a 30% da população mundial¹ – ou seja, uma em cada três pessoas sente dores prolongadas regularmente. No Brasil, a situação é igualmente preocupante: pesquisas indicam que cerca de 40% da população sofre com dores persistentes². E a prevalência se mantém elevada na terceira idade: quase 37% dos brasileiros acima de 50 anos relatam dores crônicas no dia a dia — sendo as mulheres as mais afetadas³.

O impacto na sociedade é evidente: no Brasil, dores no sistema muscular e ósseo – como as dores na coluna – já são o problema de saúde mais comum entre adultos de 15 a 64 anos, e figuram entre as principais causas de afastamento do trabalho por invalidez². A dor crônica também costuma andar de mãos dadas com outros males, como sintomas depressivos e piora da qualidade de vida³, criando um círculo vicioso difícil de quebrar. Muitas vezes recorre-se apenas a analgésicos e anti-inflamatórios, o que traz alívio temporário, mas não resolve a causa – e, nos casos mais severos, recorre-se até ao uso de opioides (por exemplo, cerca de 30% dos idosos com dor crônica utilizam esses medicamentos)³.

Com esse cenário, fica claro porque tantos profissionais de saúde defendem a prevenção como o melhor remédio. Em vez de esperar a dor se agravar para então buscar ajuda, a ideia é evitar que ela se torne crônica. Adotar hábitos saudáveis ao longo da vida – como a prática regular de exercícios físicos – é uma orientação quase unânime. Lígia Gualberto, coordenadora de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, ressalta que evitar dores na terceira idade depende justamente de adotar desde cedo hábitos de vida saudáveis, como praticar atividades físicas regularmente³. Mas a prevenção não se resume aos exercícios: é aí que entra a quiropraxia como aliada importante.

A quiropraxia é uma área da saúde focada no bom funcionamento da coluna vertebral e de todas as articulações para promover melhor conexão do cérebro com o restante do corpo. Por meio de técnicas manuais ou instrumentais – os famosos “ajustes” –, o quiropraxista corrige disfunções nessas regiões e isso pode melhorar a mobilidade e ajuda a equilibrar o funcionamento do corpo. Embora muita gente só procure esse profissional quando já está com fortes dores, a quiropraxia também pode ser utilizada de forma preventiva, não apenas curativa. Ao ajustar a coluna e reduzir tensões antes que se tornem lesões, o quiropraxista consegue prevenir o aparecimento de diversos tipos de dor. Um estudo científico controlado demonstrou isso na prática: pacientes com dor lombar crônica recorrente que fizeram sessões regulares de quiropraxia ao longo de 12 meses tiveram em média 12,8 dias a menos de dor nesse período, comparados aos pacientes que buscaram tratamento apenas ao sentir dor⁴. Em outras palavras, quem cuidou proativamente da saúde da coluna sofreu menos com episódios dolorosos.

Investir nesse cuidado preventivo traz benefícios que vão além do alívio imediato. Muitos pacientes relatam melhora geral do bem-estar ao incorporar ajustes quiropráticos periódicos na rotina – dormem melhor, movimentam-se com mais facilidade e sentem menos estresse acumulado no corpo. Assim, mais do que uma solução para crises de dor, a quiropraxia se mostra uma ferramenta valiosa de manutenção da saúde. Da mesma forma que vamos ao dentista regularmente para prevenir problemas odontológicos, faz sentido olhar para a coluna com a mesma atenção. Ao enxergar a quiropraxia como uma aliada na prevenção, podemos reduzir significativamente o risco de dores crônicas no futuro e, de quebra, melhorar nossa qualidade de vida no presente.

*Felipe Mukai é fundador e CEO da Mukai Quiro, clínica referência em saúde integrativa localizada em Guarulhos, São Paulo.

Referências:

1. Quidé, Yanna; Jahanshad, Nedac; Andoh, Jamilad; et al. ENIGMA-Chronic Pain: a worldwide initiative to identify brain correlates of chronic pain. PAIN 165(12):p 2662-2666, December 2024. | DOI: 10.1097/j.pain.0000000000003317 
2. Ministério da Saúde – Dor Crônica – Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/pcdt-resumido-da-dor-cronica – Último acesso em 03 de maio de 2025. 
3. Ministério da Saúde – Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI-Brasil) – Disponível em: “Pesquisa aponta que quase 37% dos brasileiros acima de 50 anos têm dores crônicas” – https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/dezembro/pesquisa-aponta-que-quase-37-dos-brasileiros-acima-de-50-anos-tem-dores-cronicas  – Último acesso em 03 de maio de 2025. 
4. Eklund A, Jensen I, Lohela-Karlsson M, Hagberg J, Leboeuf-Yde C, Kongsted A, Bodin L, Axén I. The Nordic Maintenance Care program: Effectiveness of chiropractic maintenance care versus symptom-guided treatment for recurrent and persistent low back pain-A pragmatic randomized controlled trial. PLoS One. 2018 Sep 12;13(9):e0203029. doi: 10.1371/journal.pone.0203029. PMID: 30208070; PMCID: PMC6135505.

*Por Felipe Mukai, quiropraxista, fundador e CEO da clínica Mukai Quiro