O Brasil possui o segundo maior programa público de transplantes do mundo, mas ainda enfrenta uma das maiores taxas de recusa familiar. Uma única pessoa pode salvar até 8 vidas, mas o silêncio dentro de casa continua sendo a principal barreira
Setembro marca a campanha Setembro Verde, dedicada à conscientização sobre a doação de órgãos. No próximo dia 27 de setembro, é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, um convite à reflexão sobre um tema que impacta milhares de famílias todos os anos.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), mais de 30 mil transplantes foram realizados no Brasil em 2024. Apesar do recorde histórico, 78 mil pessoas ainda aguardam na fila por um órgão. O contraste está no alto índice de recusa familiar: 43% das famílias se negam a autorizar a doação, quase o dobro da média mundial (25%).
“A recusa geralmente vem do medo e da falta de informação. Muitas famílias não conversam sobre o tema e, na hora da perda, acabam decidindo pelo ‘não’. É por isso que precisamos falar mais abertamente sobre doação de órgãos em casa, nas escolas e em todos os espaços possíveis”, explica a Dra. Lilian Curvelo Gastroenterologista e Hepatologista.
A doação pode ser feita por doadores vivos (em situações específicas, como um dos rins ou parte do fígado) ou após a constatação de morte encefálica, sempre com autorização da família.
-Órgãos: coração, fígado, rins, pulmões, intestinos, pâncreas.
-Tecidos: córneas, pele, ossos, tendões, válvulas cardíacas, medula.
Um único doador pode salvar até 8 vidas e transformar mais de 50 pessoas com tecidos.
“Quando falamos em doação, não estamos falando de estatísticas frias. Estamos falando de pessoas reais que ganham uma segunda chance de vida, de famílias que voltam a sorrir, de crianças que podem crescer saudáveis. É sobre humanidade e solidariedade”, reforça a médica.
Mitos que ainda afastam as famílias
1-A aparência do corpo será alterada. Mito! O procedimento é cirúrgico e não compromete a aparência do doador.
2-É possível furar a fila. Mito! A lista é nacional, auditada e segue critérios clínicos e de compatibilidade.
3-Se a pessoa tiver dito ‘sim’ em vida, a família não pode recusar. Mito! A autorização final é sempre da família.
“Um dos mitos mais comuns é o de que alguém pode passar na frente da fila, mas isso não existe. O sistema é transparente, auditado e baseado em critérios clínicos. A confiança nesse processo é fundamental para que mais pessoas se sintam seguras em dizer ‘sim’ à doação”, afirma a Dra. Lilian.
Como se tornar um doador
Não existe cadastro formal no Brasil. Para ser doador, basta avisar a família sobre a sua decisão. No momento da perda, são os familiares que autorizam ou não a doação. “Muita gente acredita que precisa de um registro em cartório ou um documento especial, mas não é verdade. Basta conversar com a sua família. Essa é a única forma de garantir que a sua vontade será respeitada”, esclarece a especialista.