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  • sex. nov 22nd, 2024

Dia da Educação: deficiência também faz parte da diversidade humana

Dia da Educação: deficiência também faz parte da diversidade humana
  • Por Roseli Olher

O Brasil é um país rico em diversidade. Desde a nossa colonização, em meados de 1500, temos em nossa população pessoas de todas as raças, cores, credos, posições sociais e políticas e orientações sexuais. A cada dia, vemos surgirem grupos de pessoas e instituições apoiando causas nobres relacionadas à inclusão e ao respeito às diferenças entre as pessoas. Esse movimento sempre foi e continua sendo muito benéfico para a sociedade, uma vez que traz resultados relevantes na conquista da autonomia e valorização do potencial de todas as pessoas. Nós, do Instituto Jô Clemente (IJC), que há 61 anos atuamos na prevenção e promoção da saúde, defesa e garantia de direitos, produção e disseminação de conhecimento e na promoção da autonomia e do protagonismo das pessoas com deficiência intelectual, defendemos o respeito à diversidade e consideramos que precisamos incluir a deficiência nessa pauta.

É notável que, ao longo das últimas décadas, caminhamos no sentido da inclusão social de cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência que vivem hoje no país, segundo dados do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, ainda há muito pela frente. Hoje, vemos que apesar de décadas de trabalho, ainda existe muita discriminação, retrocessos e falta de políticas públicas voltadas à promoção da inclusão social dessa parcela da sociedade. Ainda somos um país capacitista, ou seja, ainda existe uma falsa sensação de incapacidade das pessoas com deficiência.

Desde a nossa fundação, em 1961, registramos muitos avanços. Naquela época, as pessoas com deficiência eram segregadas, escondidas da sociedade pelas próprias famílias. Ao longo dos anos, estimulamos e vimos muitas crianças, jovens e idosos com deficiência intelectual conquistarem espaço na sociedade por meio da inclusão escolar e profissional, mas não é o bastante. A sociedade precisa se engajar nessa causa para obtermos resultados mais concretos e atingirmos pessoas que ainda são excluídas.

Nós enxergamos a deficiência intelectual e todas as outras como um grande aprendizado. É comum ouvirmos representantes de empresas dizerem que aprenderam muito depois de terem contratado pessoas com algum tipo de deficiência, em especial a intelectual, cuja acessibilidade não depende de rampas ou pisos táteis, mas do apoio e envolvimento das pessoas ao redor. Também não é raro escutarmos pais de crianças e adolescentes dizerem que seus filhos com algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor aprenderam muito mais na escola regular comum do que em uma escola especial, por conta da socialização com os outros alunos.

Os estudantes com deficiência e sem deficiência têm ritmos diferentes, como qualquer pessoa em processo de ensino e aprendizagem, bem como em processo de desenvolvimento humano. Portanto, a convivência em coletividade e as vivências desafiadoras (a todos) no dia-a-dia possibilitam escolhas distintas e significativas porque todos são atores deste processo. Não é pertinente separá-los e privá-los de convívio, pois é comprovado que se aprende em coletividade. Práticas pedagógicas coletivas e inclusivas consolidam “conhecimentos relevantes para o dia-a-dia”. Na vida diária as tarefas não são executadas isoladamente, mas realizadas à medida que as interações ocorrem.
 

Diferenciar resulta em perdas à pessoa com deficiência, como pôde ser constatado ao longo do tempo. Historicamente, infelizmente, alguns movimentos buscam por modelos homogêneos de educação. Porém, é sabido que muitas pesquisas e discussões já invalidaram ações padronizadas e revelam que os alunos com deficiência matriculados em escolas regulares comuns e que frequentam o Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contraturno escolar apresentam avanços significativos em termos de autonomia, independência, relacionamento interpessoal, comunicação receptiva e expressiva, postura de estudante e melhora na autoestima. Esses alunos demonstram e expressam seus desejos e interesses pelas atividades propostas, mostrando-se questionadores em diversos momentos das aulas, o que é muito positivo.

Nosso desafio é trabalhar pelo cumprimento, manutenção e ampliação dos direitos adquiridos nas últimas décadas e, assim, evitar o retorno da segregação. Devemos atuar junto às pessoas com deficiência, a fim de possibilitar sua plena inclusão nas escolas comuns, nas empresas e em todos os ambientes. A inclusão e o respeito à diversidade começam em casa, no ambiente familiar. Os pais, avós, cuidadores, irmãos e todos os demais familiares e amigos precisam acreditar no potencial da pessoa com deficiência e promover sua autonomia, garantindo os apoios necessários para isso e estimulando seu desenvolvimento em todas as fases da vida. Quando isso acontece, os ganhos são imensos e há reflexo direto na maneira como essa pessoa se comporta na sociedade. Quanto mais estimulada, maiores são as chances de uma real conquista da autonomia, favorecendo a inclusão no ambiente escolar e profissional, além de outros grupos e ambientes.

Trata-se de uma troca de experiências importante para o desenvolvimento de todos os envolvidos. Quando as barreiras atitudinais são eliminadas, começamos a entender que é possível ampliar o leque de respeito à diversidade, incluindo todas a minorias e valorizando o potencial de cada pessoa, independentemente de qualquer condição. A nossa visão é otimista. Temos o propósito e a clareza de que a inclusão social é o melhor caminho para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e com direitos e deveres iguais para todos. Acreditamos que isso se tornará realidade.

  • *Roseli Olher é supervisora do Serviço de Educação do Instituto Jô Clemente (IJC)

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