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  • qui. jan 30th, 2025

José Carlos do Carmo – Kal, anuncia transição em sua jornada em defesa da dignidade no trabalho

José Carlos do Carmo - Kal, anuncia transição em sua jornada em defesa da dignidade no trabalho

Fonte: https://www.camarainclusao.com.br/

José Carlos do Carmo, Kal, serviu como auditor fiscal do Ministério do Trabalho durante quase 40 anos, e continua à frente da Câmara Paulista atuando ativamente pela dignidade de trabalhadores, especialmente para profissionais com deficiência.

Confira a mensagem de José Carlos – Kal.

Queridos e queridas amigos(as), colegas e companheiros(as) de luta:

No dia 2 de janeiro deste ano, foi publicada no Diário Oficial da União a minha aposentadoria do cargo de auditor fiscal do trabalho, para minha alegria (afinal, foram quase dois anos desde que formalizei o pedido), mas também provocando uma dorzinha no coração.

Minha trajetória no Ministério do Trabalho começou em 25 de agosto de 1987, mas meu interesse pela área de saúde do trabalhador teve início ainda na graduação no curso de medicina da USP/SP.  Desde aquela época, já me interessava pela construção desse campo de conhecimento e atuação, envolvendo saúde pública e o protagonismo dos trabalhadores e seus sindicatos na defesa de condições de trabalho que não os adoecessem nem lhes tirassem a vida.

Concluída minha formação, junto a colegas e companheiros de luta, entendemos que trabalhar na área de saúde e segurança do Ministério do Trabalho seria uma forma importante de levar adiante nossos ideais em defesa dos direitos dos trabalhadores e na construção de uma sociedade mais justa.

Em 1983, prestei concurso para médico do trabalho do Ministério e, tendo me classificado em terceiro lugar, logo fui chamado para assumir o almejado posto.  Naquele mesmo ano, porém, eu havia tomado a decisão de aceitar o convite para desenvolver um projeto de saúde comunitária na então República Popular de Angola.  Em artigo publicado em 2003 na revista Ser Médico, do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, escrevi:

“O ingênuo, quiçá pretensioso, pensamento de que sair do país seria uma traição à luta do povo brasileiro, deu lugar ao sentimento romântico, de aventura e de militância no exterior: viver e trabalhar num país africano, socialista e em guerra.” 

Assim, solicitei o adiamento da minha posse no Ministério.  Tendo retornado de Angola em 1986, somente em 1987, finalmente assumi o cargo na fiscalização do trabalho, na antiga Delegacia Regional do Trabalho em São Paulo.  Lá, tive o privilégio de me juntar a colegas médicos e engenheiros que realizavam um trabalho inovador na fiscalização, em parceria com o movimento sindical e outros órgãos púbicos, especialmente no campo da saúde pública.

Ao longo dessas décadas, participei de diversas frentes de trabalho na auditoria fiscal do trabalho.

Em 2001, foi criado, no âmbito da Superintendência Regional do Trabalho, um grupo específico para fiscalizar o cumprimento da reserva legal de vagas para pessoas com deficiência ou reabilitadas, com base na bem-sucedida experiência iniciada na regional de Osasco. Algum tempo depois, o Projeto de Inclusão da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho foi formalizado, e tive a honra de coordená-lo, no âmbito estadual, desde então até a minha aposentadoria.

Ao longo desses anos, dediquei-me não apenas à fiscalização da Lei de Cotas, mas também a promover a articulação entre diferentes atores sociais e instituições públicas e privadas, com foco especial em fortalecer o protagonismo das próprias pessoas com deficiência.  Compreendendo que a inclusão social exigia ações que extrapolassem a indispensável e fundamental fiscalização legal, criamos a Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência, na qual continuo e continuarei a militar.

Embora muito ainda precise ser feito, acredito que avançamos significativamente no resgate do direito ao trabalho para pessoas com deficiência, que historicamente lhes tem sido negado.  O trabalho desenvolvido pelos colegas auditores fiscais em todo o país tem transformado, para melhor, a realidade desses trabalhadores. 

Hoje, nossa atuação é reconhecida não apenas no Brasil, mas internacionalmente.  Tive a oportunidade de compartilhar essa experiência em países como Alemanha, Argentina, Estados Unidos e Itália.

Minha aposentadoria não implica o fim da luta pelos ideais que guiaram minha trajetória no Ministério do Trabalho.

Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, escreveu: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Seguirei caminhando em busca de minhas utopias.  Só mudo o caminho e o modo de caminhar.

Abraços.

Kal

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