• qua. mar 12th, 2025

Psicopedagoga enfrentou o bullying e hoje ensina professores a alunos a lidarem com a diversidade

Psicopedagoga enfrentou o bullying e hoje ensina professores a alunos a lidarem com a diversidade

“O diferente assusta, mas também ensina. E eu escolhi ensinar”

Desde muito cedo, Gleiciane de Oliveira Maziotti entendeu que não era igual aos outros. “Quando iniciei na escola, eu não fui bem acolhida. Sentia medo e a falta dos meus pais. Isso criou em mim um trauma. A mudança repentina, professores despreparados e todos os outros sentimentos envolvidos levaram ao desenvolvimento de uma condição chamada ‘alopécia androgenética’, que faz com que o indivíduo não tenha pelos em todo o corpo”, conta a educadora de 37 anos, nascida em Curitiba.

“Infelizmente o que acontece na escola não fica só na escola, levamos para a vida e o bullying que sofri a partir dessa doença autoimune trouxe um tipo de sofrimento que transformei em força para ser a profissional que sou hoje”, comenta. A rejeição e os comentários cruéis que ouvia dos colegas a fizeram desistir dos estudos. “Falavam que eu tinha AIDS, que eu tinha câncer. Aquilo me feriu profundamente, a ponto de eu abandonar a escola”, relembra.

Mas o que poderia ser o fim de uma trajetória acadêmica se tornou o ponto de virada na sua vida. Determinada a reescrever sua história, Gleiciane decidiu voltar a estudar na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), ingressou em uma graduação e posteriormente se especializou com uma pós-graduação em Psicopedagogia com Ênfase em Educação Especial.

Hoje, a educadora se dedica a transformar o ambiente escolar para crianças que, assim como ela, sentem na pele o peso de serem consideradas diferentes. “Já escutei um aluno dizer: ‘Eu não queria ser diferente!’. Isso me remeteu ao período em que eu mesma pensava assim. Mas escolhi lutar pelo direito de ser diferente e aceita com normalidade”, afirma.

A importância do seu trabalho ganha ainda mais relevância diante dos dados alarmantes sobre a violência escolar. Segundo pesquisa do DataSenado, quase sete milhões de estudantes já sofreram algum tipo de violência dentro da escola. Para Gleiciane, isso reforça a necessidade de preparar educadores e familiares para lidar com a diversidade. “Sair do padrão considerado ‘normal’ assusta. As escolas recebem crianças neurodivergentes, obesas, com problemas de pele, estatura, deficiências. E é preciso que pais e professores saibam acolher e incluir”, ressalta a educadora.

Com especialização em estratégias para educação inclusiva, desenvolvimento infantil e liderança em ambientes educacionais, Gleiciane tem levado seu conhecimento para além das salas de aula. Nos últimos cinco anos, esteve nos Estados Unidos se aperfeiçoando e compartilhando suas técnicas com educadores. Entre as ações mais impactantes, ela foi percussora em tornar a cidade de Monte Alto, interior de São Paulo, uma cidade referência no trato com alunos especiais, ajudando a aplicar novas abordagens na rede educacional local e promovendo atualizações anuais da técnica.

“Esses anos fora do país, me dediquei a aprender e aprimorar meus métodos. Hoje, meu objetivo é garantir que outras crianças não precisem passar pelo que passei. Pais, alunos e professores têm que ser conscientizados, ainda mais no mundo de hoje, onde a pluralidade está em alta. Quero que elas tenham um ambiente escolar mais acolhedor e professores mais preparados”, enfatiza Gleiciane.

De vítima de bullying a referência na educação inclusiva, sua trajetória prova que é possível transformar dor em propósito. Para quem um dia duvidou de si, ela deixa um recado: “O diferente assusta, mas também ensina. E eu escolhi ensinar”.

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