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Crianças com deficiência visual ainda não receberam material didático

ByJornalismo Diário PcD

fev 16, 2024
OPINIÃO - Crianças com deficiência visual ainda não receberam material didático. * Por Beto Pereira

OPINIÃO

  • * Por Beto Pereira 

A Organização Nacional de Cegos do Brasil – ONCB, que representa 100 entidades de todo país, como a LARAMARA, tem recebido inúmeros relatos sobre uma realidade persistente no início de todo ano letivo.

Ano após ano, mães, pais, familiares e, sobretudo, as próprias pessoas com deficiência se deparam com uma lacuna significativa em sua jornada educacional: a escassez ou a total ausência de livros em braille e materiais didáticos adaptados para crianças e adolescentes cegos ou com baixa visão inseridos na rede escolar.

Essa problemática não se limita a uma região específica, é uma realidade que transcende as fronteiras das pequenas, médias e grandes cidades, incluindo as capitais, onde, apesar de uma ligeira melhoria na agilidade de atendimento, a insuficiência persiste.

Relatos e escutas realizadas por entidades dedicadas à causa revelam uma demora crônica na entrega desses materiais essenciais, colocando em xeque a efetividade das políticas públicas destinadas a assegurar uma educação verdadeiramente inclusiva.

Uma narrativa particularmente tocante vem de uma psicóloga, que ao conversar com um pré-adolescente de 11 anos, descobriu que, para ele, o aspecto mais valorizado da escola era a convivência harmoniosa entre alunos com e sem deficiência. No entanto, a dor de não ter acesso ao livro didático em braille desde o início do ano letivo destacava-se como sua maior tristeza. Este relato não é isolado, mas reflete uma dor compartilhada por muitos, evidenciando um tratamento desigual que rasga o véu da inclusão prometida.

Diante desse cenário, é imperativo questionar: Como pode, no ano de 2024, com tantos avanços tecnológicos e recursos disponíveis, aceitarmos que crianças e adolescentes com deficiência visual ainda enfrentem tais barreiras na sua educação? A resposta é clara e uníssona entre as organizações de habilitação e reabilitação, educadores e familiares: não podemos.

A urgência de se garantir a igualdade de acesso ao conhecimento é corroborada por uma mobilização crescente entre organizações nacionais, que levam suas preocupações e demandas a instâncias superiores, incluindo o Ministério da Educação e o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Estes esforços visam não apenas evidenciar as lacunas existentes, mas também pressionar por mudanças concretas que assegurem a entrega tempestiva de materiais didáticos adaptados.

A raiz do problema parece residir na logística e planejamento inadequados, com a adaptação e transcrição de conteúdos sendo iniciadas tardiamente, resultando em atrasos inaceitáveis na entrega dos materiais. Para romper esse ciclo, é essencial um comprometimento maior dos responsáveis pela educação, assegurando que os materiais em braille e adaptações para baixa visão sejam priorizados e preparados com a devida antecedência e qualidade.

Esse desafio não é apenas uma questão de logística, mas um teste para o compromisso da sociedade com a educação inclusiva. A alfabetização e o acesso ao conhecimento são direitos fundamentais que definem a trajetória de vida de cada criança e adolescente, independentemente de suas condições físicas. A falha em prover recursos didáticos adaptados não apenas prejudica o aprendizado, mas também reforça barreiras de exclusão, negando a esses jovens o direito de sonhar e alcançar seu pleno potencial.

Em última análise, a luta por materiais didáticos acessíveis para estudantes com deficiência visual é um reflexo mais amplo da luta por uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Uma sociedade que reconhece e valoriza a diversidade, que se compromete com a igualdade de oportunidades e que se esforça incansavelmente para garantir que cada criança e adolescente possa aprender, crescer e prosperar, independentemente de suas limitações físicas. A hora de agir é agora, pois cada dia de atraso é um dia perdido na educação e na vida desses jovens.”

  • * Beto Pereira é sociólogo, consultor em inclusão, acessibilidade e diversidade humana da LARAMARA — Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual — e é Presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB).

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