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Pesquisa revela que 60% dos indígenas adultos não aldeados têm ao menos uma doença crônica

Pesquisa revela que 60% dos indígenas adultos não aldeados têm ao menos uma doença crônica

O estudo tem como base os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE; os resultados foram publicados na revista Saúde em Debate

Estudo realizado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelou que 60% da população indígena que vive fora de aldeias, com mais de 20 anos, têm ao menos uma doença crônica. As análises foram baseadas nos dados divulgados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a 2019.

Pela Unicamp, assinam o estudo as pesquisadoras do Laboratório Epidemiologia das Doenças e de Outras Condições Crônicas (EpiDOC) Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco, Daniela de Assumpção, Aldiane Gomes de Macedo Bacurau e Veronica Batista Gomes Leitão; pela UFMG, Deborah Carvalho Malta

Segundo os resultados da pesquisa publicados na revista Saúde em Debate, aproximadamente 35% dos indígenas tinham duas ou mais doenças (multimorbidade). As enfermidades mais prevalentes foram a hipertensão arterial (29,3%), problemas crônicos da coluna vertebral (20,6%) e o colesterol alto (14,3%), depressão (10%) e artrite ou reumatismo (10%).

Em 2022, o número de pessoas que se autodeclararam indígenas no Brasil foi de cerca de 1,69 milhão, o que representava 0,83% da população país, quase o dobro em relação ao censo anterior. Entre os não aldeados, 87,5% residiam em áreas urbanas, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Quanto à posse de plano médico, 86,4% dependiam exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), percentual maior do que o encontrado para a população adulta não indígena.

Para as autoras, os dados refletem um estilo de vida que favorece a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis e revelam o impacto da desigualdade social na saúde. “Boa parte da população indígena que não vive em aldeia encontra-se nas periferias, vivendo em piores condições socioeconômicas, com menor acesso à infraestrutura e aos equipamentos públicos, como, por exemplo, locais para a prática de atividades de lazer e aquisição de alimentos saudáveis e culturalmente aceitáveis. Somado a isto, o contato com outras culturas aumenta o risco do surgimento de problemas de saúde que, relacionados com as mudanças no modo de vida, podem potencializar a ocorrência de doenças crônicas”, declara Assumpção.

Entre as políticas públicas necessárias para enfrentar as doenças crônicas mais prevalentes, o estudo aponta a implementação de práticas relacionadas à promoção da saúde e à prevenção de agravos, considerando que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e deve atender à diversidade. “Isso coloca-se como um desafio para o SUS e, em especial, para a Atenção Primária à Saúde”, afirma Francisco.

Por fim, para as pesquisadoras do EpiDOC, entre os próximos passos em pesquisa possíveis para aprofundar o conhecimento na área está o desenvolvimento de inquéritos específicos para avaliar as condições de vida e de saúde das populações indígenas. Além disso, dados de saúde de diferentes etnias e da população aldeada permitiriam estabelecer novas comparações.  

Matéria publicada originalmente no site da FCM.

Fonte: https://jornal.unicamp.br/

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