- Por Rubens de Fraga Júnior
“As breves sessões de respiração tiveram impactos significativos. A frequência cardíaca aumentou durante cada período de exercício e os níveis de peptídeos beta-amiloide circulando no sangue diminuíram ao longo das quatro semanas do experimento”.
Essa é a conclusão de um novo estudo da Escola de Gerontologia Leonard Davis da USC, coordenado pela professora Mara Mather. A pesquisa, publicada no mês passado, na revista Scientific Reports, aponta para aquela que pode ser a primeira descoberta na maneira pela qual adultos, jovens e idosos possam reduzir seus níveis de beta-amiloide por meio de exercícios respiratórios que diminuam os níveis sanguíneos desses peptídeos associados à doença de Alzheimer.
Isso ocorre porque a maneira como respiramos afeta nossa frequência cardíaca, que, por sua vez, impacta nosso sistema nervoso e a maneira como nosso cérebro produz proteínas e as elimina. Enquanto estamos acordados e ativos, normalmente, usamos nosso sistema nervoso simpático. Às vezes, isso é conhecido como sistema de “luta ou fuga”, mas também o usamos para nos exercitar, focar a atenção e até mesmo para ajudar a criar memórias duradouras. Enquanto o sistema nervoso simpático é ativado, não há muita variação no tempo entre cada batimento cardíaco. Em contrapartida, quando o sistema parassimpático é ativado, as frequências cardíacas aumentam durante a inspiração e diminuem na expiração.
Quando somos jovens – ou mais velhos, mas em boa forma – nosso corpo oscila facilmente entre o sistema nervoso simpático e seu parceiro, o sistema nervoso parassimpático. Conhecido como a parte “descansar e digerir” do nosso organismo, o sistema nervoso parassimpático nos permite acalmar, digerir os alimentos com facilidade e dormir profundamente. Quando ocorrem esses tipos de atividades, a variação entre os batimentos cardíacos é maior. Mas à medida em que envelhecemos, nossa capacidade de acessar nosso sistema nervoso parassimpático – e, portanto, nossa variação de frequência cardíaca – diminui drasticamente.
Um estudo de 2020 usando relógios inteligentes descobriu que a variabilidade da frequência cardíaca cai em média 80% entre 20 e 60 anos. Essa descoberta pode explicar por que lutamos para dormir profundamente à medida em que envelhecemos.
“Sabemos que os sistemas simpático e parassimpático influenciam a produção e a eliminação de proteínas e peptídeos relacionados ao Alzheimer”, disse Mather, que dirige o Laboratório de Emoção e Cognição da Leonard Davis School of Gerontology. “No entanto, tem havido pouca pesquisa sobre como essas mudanças fisiológicas no envelhecimento podem estar contribuindo para os fatores que tornam propício para alguém desenvolver a doença de Alzheimer ou não”, conclui a especialista.
Mather e colegas pesquisadores da USC, UC Irvine e UCLA pediram aos participantes que fizessem exercícios de biofeedback duas vezes ao dia, por 20 minutos de cada vez. Todos os participantes colocaram um monitor cardíaco no ouvido, aparelho que estava conectado a um laptop fornecido pelos pesquisadores.
Metade do grupo foi instruída a pensar em coisas calmas, como uma cena de praia ou uma caminhada em um parque, ou ouvir música calma. Enquanto isso, eles foram orientados a ficar de olho na frequência cardíaca exibida na tela do laptop, certificando-se de que a linha da frequência cardíaca permanecesse o mais estável possível enquanto meditavam.
O outro grupo foi instruído a controlar sua respiração no ritmo de um marca-passo na tela do laptop – quando o quadrado subia, eles inspiravam e, quando o quadrado diminuía, eles expiravam. Eles também monitoraram seus batimentos cardíacos, que tendiam a subir em picos quando inalavam e caíam para a linha de base quando exalavam. Seu objetivo era aumentar as oscilações induzidas pela respiração em seus batimentos cardíacos.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue antes dos participantes começarem o experimento e, novamente, após quatro semanas de treinamento de biofeedback. Em seguida, os pesquisadores examinaram o plasma dos participantes de ambos os grupos em busca de peptídeos beta-amiloides.
Em particular, os pesquisadores analisaram dois peptídeos, beta-amiloide 40 e 42.
Acredita-se que o acúmulo de beta-amiloide no cérebro devido ao aumento da produção e/ou diminuição da depuração desencadeie o processo da doença de Alzheimer. Em adultos saudáveis que ainda não apresentam sinais de acúmulo de amiloide no cérebro, uma meta-análise mostra que níveis mais altos de beta-amiloide 40 e 42 no sangue circulante predizem um risco maior de desenvolver Alzheimer.
No estudo de Mather e seus colegas, os níveis plasmáticos de ambos os peptídeos diminuíram no grupo que respirava lentamente e tentava aumentar a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) aumentando as oscilações.
Dos 108 participantes do estudo, metade era jovem (de 18 a 30 anos) e a outra metade era idosa (de 55 a 80 anos). Os adultos mais jovens e os idosos mostraram efeitos semelhantes das intervenções nos níveis plasmáticos de beta-amiloide.
O estudo parece ser o primeiro a descobrir que as intervenções comportamentais podem reduzir o nível de peptídeos beta-amiloides no plasma. Pesquisas anteriores demonstraram que a privação do sono e o estresse podem aumentar os níveis de beta-amiloide, mas provou ser mais desafiador diminuir o beta-amiloide com intervenções comportamentais.
“Pelo menos até o momento, as intervenções com exercícios não diminuíram os níveis de Aβ [amiloide beta]”, disse Mather, que conclui: “Praticar regularmente a respiração lenta via biofeedback HRV pode ser uma maneira de baixo custo e baixo risco de reduzir os níveis plasmáticos de Aβ e mantê-los baixos durante a vida adulta”.
Fonte: Jungwon Min et al, Modulating heart rate oscillation affects plasma amyloid beta and tau levels in younger and older adults, Scientific Reports (2023). DOI: 10.1038/s41598-023-30167-0
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Rubens de Fraga Júnior é Professor de Gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e médico especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).